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Paulo Macedo: “Subida do preço do imobiliário ajudou a mitigar incumprimento do crédito à habitação”

Caixa Geral de Depósitos divulgou na sexta-feira um resultado histórico de 608 milhões de euros no primeiro semestre, mais 25% que no mesmo período do ano passado, devido à forte subida (127,7%) da margem financeira, com a escalada das taxas de juro.
O diretor executivo da Caixa Geral de Depósitos, Paulo Macedo (D) na apresentação dos resultados do 1.º semestre de 2023 da Caixa Geral de Depósitos, esta tarde na sede da mesma em Lisboa, 21 de julho de 2023. MIGUEL A. LOPES / LUSA
24 Julho 2023, 07h30

O CEO da Caixa Geral de Depósitos (CGD), Paulo Macedo, defendeu na passada sexta-feira que a atual situação que faz com que muitas famílias tenham dificuldades em pagar os créditos, devido à subida das taxas de juro, é diferente de outras do passado, na medida em que a subida dos preços do imobiliário permitem que muitos desses clientes vendam as suas casas e ainda façam algum lucro.

“A subida do preço do imobiliário ajudou a mitigar o incumprimento do crédito à habitação.  A casa em média vale mais que o empréstimo (…). Sabemos que algumas famílias têm dificuldades, mas ao contrário das anteriores crises conseguem vender a casa, pagar ao banco e ficarem ainda com algum dinheiro”, disse o presidente do maior banco português.

“Não temos uma única casa entregue desde a subida dos juros. Algumas casas que a CGD tem são executadas em processos judiciais antes da pandemia, e são 12”, disse o CEO, acrescentando que a mitigar o incumprimento no crédito estão ainda os bons níveis de poupança.

Estas declarações foram feitas na conferência de apresentação de resultados semestrais do banco público, que teve lugar na passada sexta-feira, dia em que apresentou um resultado líquido de 608 milhões de euros, mais 25% que no período homólogo,  “evidenciando a consolidação dos resultados dos últimos anos e o cenário atual de subida de taxa de juro”.

Na conta de resultados, a estrela foi (sem surpresa) a receita de juros. A margem financeira consolidada aumentou 127,7% (738 milhões) para um total de 1.316 milhões de euros “devido essencialmente ao contributo da atividade em Portugal [em Portugal a receita da margem cresceu num ano 716,7 milhões] reflexo de dois efeitos, o impacto da subida das taxas de juro nas operações de retalho, repartido entre o segmento de clientes particulares (+270 milhões de euros) e empresas e outros clientes (+148 milhões de euros); e o contributo da atividade de tesouraria”, refere o banco.

A CGD reportou 404 milhões de euros de margem financeira na atividade doméstica de retalho de particulares no primeiro semestre; 311 milhões no Retalho – Empresas e (também na atividade doméstica); 260 milhões de receita de juros gerada pela atividade internacional; e 258 milhões com a aplicação de depósitos junto do Banco Central Europeu (BCE). Para além de haver 82 milhões gerados pela carteira de títulos em Portugal (Tesouraria e outros).

As comissões deram 289 milhões aos resultados líquidos, menos 15 milhões que no período homólogo.

“A CGD baixou a nível de receitas em comissões e isso vai continuar a acontecer”, anunciou o CEO da CGD que disse ainda que “temos hoje uma série de isenções de comissões relativamente às transferências de crédito que não existiam e outras comissões do crédito que acabaram por via legislativa, mas que são um menor encargo para as famílias”.

O banco destacou que, ainda ao nível do Produto Bancário, os resultados de operações financeiras somaram 152 milhões, o que traduz uma subida de 77 milhões gerada por uma operação one-off, que foi a venda de ativos do extinto Fundo de Pensões que deu 80 milhões ao resultado.

Depois, no lado dos custos, verificou-se um aumento anual de 65 milhões para 556 milhões de euros (um aumento de 13,3%).

As provisões e imparidades para riscos de crédito foram reforçadas em 298 milhões de euros, o que “reflete abordagem preventiva”, diz a CGD.

O custo do risco de crédito piorou desde dezembro (quando era -0,01%) para 0,40% e segundo o banco, “o custo de risco de crédito reflete a posição conservadora e preventiva”.

O banco reportou ainda 137 milhões de outras provisões e imparidades, que são explicadas maioritariamente pela provisão dos custos do programa de reestruturação.

“A provisão não é para rescisões é para pré-reformas”, disse Paulo Macedo sobre os 137 milhões de euros de provisões que não são para crédito e que estão registadas nas contas do primeiro semestre. “Todos os anos a CGD tem 400 pessoas que pedem para sair, ou seja, que pedem a pré-reforma (55 anos e 60 anos)”, lembrou o CEO.

“Os resultados do primeiro semestre são um marco histórico para a Caixa, porque o somatório dos resultados desde a recapitalização conseguem superar os prejuízos acumulados entre 2001 e 2016”.

A média da Rendibilidade dos Capitais Próprios (ROE) da última década atinge 0,9% e no período após a recapitalização em 2017 sobe para 7,7%, salientou o banco.

“Há uma guerra entre bancos pelos depósitos”

A CGD continua a liderar o mercado em termos de depósitos captados aos particulares, com uma quota de 31%, e no crédito à habitação com uma quota de 23%.

Apesar da Caixa manter a sua posição de liderança também  nos depósitos totais de clientes, com uma quota de 23%, verificou-se uma queda no semestre. Os depósitos de clientes alcançaram 79 mil milhões de euros a nível consolidado e 69 mil milhões na atividade doméstica. No mercado nacional, os depósitos de clientes diminuíram 3.763 milhões de euros (-5,2%) face a dezembro de 2022.

O total de recursos de clientes na atividade consolidada ascendeu a 93.463 milhões de euros em junho de 2023, o que representou uma diminuição de 4,9% face a dezembro do ano anterior. O decréscimo justifica-se essencialmente pela evolução dos depósitos da atividade doméstica.

“Há uma saída de depósitos, em parte para amortizações e em parte para reembolsos antecipados do crédito”, reconheceu Paulo Macedo. Mas em junho já houve uma “inversão desta tendência”, e os depósitos retomaram o crescimento no mês de junho.

Antes entravam na CGD 5.000 milhões em depósitos todos os anos (durante três anos seguidos), lembrou Paulo Macedo.

Entre fevereiro e junho houve muitas movimentações de depósitos dos bancos. “Temos bancos que dão 2,75% como a CGD e há taxas negociadas, para além dos preçários. Quer para particulares, quer para empresas”, referiu o CEO.

Paulo Macedo foi questionado sobre como travar a fuga dos depósitos e respondeu que “a primeira coisa a fazer é tornar a rentabilidade dos depósitos mais interessante e seguros para os clientes”.

Toda a banca se esforçou para dar melhores taxas nos depósitos. “Nos juros de depósitos há claramente uma guerra entre bancos, uma disputa enorme”, sublinhou Paulo Macedo.

“Compete-nos ter uma oferta atrativa e mais do que os depósitos estamos muitos interessados nos recursos totais de clientes e nas ofertas que podemos fazer de um conjunto de instrumentos de poupança. Porque há sempre ativos alternativos para a poupança”, refere o CEO.

“A diversificação é aconselhada. Ainda bem que há transferência de investimentos. Tenho pena até de não termos um mercado de capitais mais pujante,” defende o presidente executivo do banco. “O que eu posso dizer é que os depósitos estiveram a cair enquanto não houve aumento das taxas de juros dos depósitos a prazo. Mas também começaram a subir quando houve uma menor remuneração dos Certificados de Aforro”, disse Paulo Macedo. Sobre isto deixou uma pergunta: “Quanto é que o Estado está hoje a pagar nas OT a 10 anos? Está a pagar 3,15%, abaixo de Itália, Grécia e Espanha”.

Crédito reduz 0,8%

Não é só nos depósitos que há uma guerra entre bancos, na opinião de Paulo Macedo. “Não temos nenhum interesse em reduzir a dimensão e por isso é que há uma guerra no crédito”, revela o banqueiro.

O CEO da Caixa Geral de Depósitos defende a redução da atual taxa de stress de 3% que agrava as taxas de esforço, e que o Banco de Portugal já admitiu reduzir. Esta medida macroprudencial tem levado a que muitos empréstimos habitação sejam recusados.

No primeiro semestre a carteira de Crédito a Clientes (consolidado) caiu 0,8% face a 31 de dezembro de 2022, para um montante de 52.610 milhões de euros.

Em Portugal o crédito a clientes caiu 0,3% para 45.417 milhões no banco que é líder de mercado com uma quota de 18%.  Esta queda não se deve ao crédito a empresas, já que este (Crédito a Empresas e Setor Público, Doméstico) subiu 1,9% nos seis meses para 19.894 milhões.

Em Portugal o Crédito à Habitação recuou -2,1% para 24.466 milhões de euros. “Numa conjuntura de queda da procura de crédito”, destaca o banco.

“Há um aumento dos indexantes, mas também há uma redução dos spreads. Temos assistido a uma redução spreads”, referiu Paulo Macedo quando questionado sobre o agravamento do custo do crédito para as famílias.

“As famílias e empresas estão menos endividadas e isso tem impacto na dimensão da carteira de crédito dos bancos”, considerou o banqueiro.

O CEO da CGD destacou também que a carteira de crédito reduziu também por causa das amortizações antecipadas” e defendeu que “a carteira de crédito aumentará com a dimensão da economia”.

Paulo Macedo lembrou que a carteira de crédito diminui “também porque os bancos venderam carteiras grandes de malparado”.

A CGD viu o volume dos créditos non-performing (NPL) cair 3,8% para 1.783 milhões de euros, por via das curas e recuperações, das vendas e dos write-offs “que têm conseguido superar o nível dos inflows”.

O rácio de crédito malparado piorou face a dezembro (de 2,43% para 2,48%) por causa da redução da carteira de crédito.

Apesar de crédito em cumprimento (Stage 1) ter registado uma queda de -0,52 pontos percentuais face a dezembro e de o crédito Stage 2, sem incumprimento, mas em que foram identificados critérios de degradação significativa do risco de crédito, ter subido 0,63 pp face a dezembro, o crédito em Stage 1 continua a representar mais de 88% da carteira de crédito no grupo CGD (e também na Caixa em Portugal). Em 2022 o crédito em Stage 1 representava 89,3%.

 

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