Os momentos finais da guerra na Ucrânia, com a Europa ignorada e marginalizada, levantaram questões geopolíticas que podem redefinir o equilíbrio global. A possível retomada de uma corrida armamentista no continente europeu ameaça desestabilizar o frágil processo de paz construído ao longo das últimas sete décadas.
A fala recente de Emmanuel Macron sobre a Europa assumir uma postura mais beligerante reacendeu o debate sobre o papel do continente em um mundo cada vez mais polarizado. A ideia de que a Europa deve se armar até os dentes para garantir sua segurança é problemática. O continente deveria evitar repetir os erros do passado, priorizar a paz, a cooperação e o desenvolvimento sustentável.
A Europa não deve deixar levar-se pelos interesses dos Estados Unidos, que buscam manter sua hegemonia global através do fortalecimento militar e econômico. A equivocada estratégia americana de conter a ascensão da China não deve ser transplantada para o continente europeu. A Europa já conviveu por séculos com uma Ásia economicamente predominante, sem que isso representasse uma ameaça direta à sua segurança ou prosperidade. Não faz sentido que os europeus se envolvam numa disputa que prejudicará seus próprios interesses.
A China tem defendido uma visão de mundo baseada em valores compartilhados, destino comum e cooperação mútua. A sabedoria milenar chinesa ressalta a importância de buscar o equilíbrio e a harmonia. A ideia de que a paz só pode ser garantida através da força é uma visão ultrapassada e perigosa. É possível alcançar a segurança e o desenvolvimento através da cooperação e do diálogo.
Ao invés de incrementar custos militares, a Europa precisa focar em melhorar sua combalida infraestrutura, resolver a questão migratória – o maior desafio europeu – e enfrentar os desafios de manter uma coesão social diante dos fluxos migratórios. É importante ressaltar que os investimentos chineses em infraestrutura na África têm servido como um alívio nesta tensão migratória. A Europa deveria investir em aumentar sua produtividade, modernizar a economia e assegurar a continuidade da qualidade de vida. Esses são os verdadeiros desafios que o continente enfrenta, e não a suposta necessidade de competir militarmente com outras potências globais.
A Europa está, portanto, diante de uma encruzilhada: seguir o caminho da militarização e da subserviência aos interesses americanos ou abraçar uma postura mais independente – incluindo até mesmo a uma possível saída da NATO. A Europa precisa abandonar velhos paradigmas e abraçar uma nova visão de futuro. Como ensinou Confúcio, “A verdadeira sabedoria está em reconhecer que o bem-estar de todos é o caminho para o bem-estar de cada um”.