Volta não volta o tema renasce. Recentemente foi o presidente do México a solicitar do Rei de Espanha uma desculpa pela conquista do México realizada vai para 500 anos. Alega que a actuação dos castelhanos dizimou o povo Azteca, que seriam os antepassados dos actuais mexicanos. Idêntica polémica surgiu entre nós pela exigência de desculpas em torno da escravatura e do colonialismo.

O debate percorre a comunicação social com momentos de alguma excitação e historiadores a terçarem argumentos de um lado e do outro. Temos que reconhecer que o ambiente – o “ar dos tempos”, como dizem alguns – é propício ao tema. A emergência nas universidades dos estudos de género e o enfoque nas temáticas ditas “minoritárias”, associadas à ideia do reconhecimento das “injustiças históricas”, trouxe-nos aqui. É difícil não avaliar os acontecimentos passados pelos olhos do presente.

Mas nem sempre esse exercício dá bons resultados. Por exemplo, a escravatura ou o genocídio são conceitos que se foram alterando historicamente do ponto de vista da sua valoração. Há 500 anos ofendiam apenas meia dúzia e hoje, no contexto de uma cultura de Direitos Humanos, são práticas intoleráveis (e criminalizadas) para todos.

Ora, esse é justamente o convite para que evitemos julgar e condenar (ou festejar) Cortez pelo que fez no México há 500 anos. Ou classificar Fernão de Magalhães pelo que fez na Patagónia, como se fôssemos o júri do “The Voice”.

Com isto não defendo o black out valorativo, ali onde é historicamente possível ponderar valores. Mas a ideia de uma História “julgadora” feita por historiadores-juízes (e essa tentação sempre existiu) reduz aquela a uma lista de “boas” e “más” acções que mudam consoante o observador (em função da sua nacionalidade, raça, sexo, idade ou condição social).

Se não sairmos desse círculo vicioso passamos a vida a pedir, a aceitar ou a recusar desculpas pelo que os nossos antepassados fizeram.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.