Este texto foi publicado originalmente no suplemento “Quem é Quem no Setor Financeiro”, que integrou o Jornal Económico de 26 de fevereiro de 2021.

 

O ano de 2020 acabou e ficará, com certeza, para a história. Trouxe-nos não só a pandemia como a maior recessão desde a II Guerra Mundial. Por outro lado, trouxe também apoios coordenados e sem precedentes à economia, por parte dos bancos centrais e dos governos.

Neste contexto, as moratórias bancárias assumiram uma importância extraordinária na economia portuguesa, sendo uma das medida-chave de 2020. De acordo com dados recentes do Banco de Portugal, Portugal tem um peso muito significativo das moratórias – tanto em volume como na sua duração – atualmente mais de 29% do crédito dos bancos está “protegido” por este regime. Um valor elevado por comparação com outras economias europeias.

Face ao momento atípico que vivemos, o Governo decidiu alargar a vigência das moratórias até 31 de março, numa decisão que considero acertada, permitindo mais uma vez às empresas e às famílias acautelar constrangimentos de liquidez e tesouraria decorrentes da pandemia, através da suspensão do crédito.

No entanto, este “penso-rápido” que são as moratórias e que travaram o incumprimento generalizado, acarretam a possibilidade do aumento do crédito malparado e do incumprimento dos empréstimos, pelo que é fundamental criar soluções que não comprometam a recuperação económica no período pós-vacina sobre os processos de restruturação bancária.

Os bancos têm levado a cabo um reforço significativo das suas provisões, acautelando os seus balanços para um possível aumento do incumprimento, mas é muito importante que seja ponderado um plano pós-moratórias, para que se permita uma adaptação progressiva em linha com a economia.

A proatividade dos bancos vai ter também um papel relevante na deteção, de forma atempada, de eventuais problemas de empresas e de particulares no que toca ao cumprimento das suas obrigações de crédito. Mais do que nunca, bancos e clientes vão trilhar de mãos dadas este caminho. A vacina vai trazer as desejadas melhorias do ciclo económico e da confiança, mas apenas a partir do segundo semestre. Até lá, é necessário não comprometer o papel dos bancos como motor desta recuperação, pois serão novamente chamados a desempenhar o seu papel nesta nova fase.