À quarta foi de vez e uma moção de censura derrubou um Governo em Espanha.
Verdade que o partido no poder, o Partido Popular (PP) de Rajoy mereceu a censura. A sentença do caso Gürtel não deixa dúvidas. Não foi apenas o corruptor – Correa – e o tesoureiro do PP – Barcenas – que foram condenados. O PP também foi sentenciado a pagar uma multa avultada – 245 mil euros – e vários dos seus membros foram condenados.
Numa Espanha ainda a braços com a questão catalã, esta sentença foi a oportunidade pela qual Sánchez ansiava há muito. Até porque as sondagens não corriam de feição ao PSOE. A regra da quase totalidade dos partidos socialistas da União Europeia. Portugal a funcionar como exceção.
Como se tratava de uma moção de censura construtiva, Sánchez sabia que, em caso de aprovação, seria automaticamente chefe do Governo. Por isso, virou o olhar para este lado da Península. Afinal, Costa tinha sabido transformar uma derrota em vitória e logrado o poder apoiado em três partidos populistas. Ora, em Espanha também existe um partido populista – o Podemos – ansioso por se sentar no Palácio do Poder.
O problema é que o magro pecúlio de mandatos do PSOE – apenas 84 – adicionado dos deputados do Podemos não era suficiente. Porém, as baias éticas do PSOE são muito elásticas quando o acesso ao poder está em questão. Por isso, Sánchez estendeu a mão a partidos que põem em causa a unidade territorial de Espanha.
Que esses partidos sejam nacionalistas/independentistas não causou o mínimo constrangimento ao líder do PSOE. Talvez por saber que se houvesse eleições agora, como cerca de metade dos eleitores desejam, não chegaria ao Governo e acabaria por ser um líder partidário a prazo. Era preciso correr o risco. A légua foi cumprida!
Os problemas começam a 2 de Junho. Desde logo porque cinco dos seus pontuais aliados – Podemos, PDeCAT, EH Bildu, ERC e Compromís – já fizeram saber que não aceitam os Pressupostos Gerais do Estado. Aqueles que o PP aprovou e que Sánchez incluiu no programa que apresentou no Senado. Uma posição que não colheu ninguém de surpresa. Esses partidos limitam-se a manter as posições de sempre.
A enxaqueca não vai demorar. Há um Governo para formar e um país para governar. Ao contrário do PS, o PSOE tem menos deputados do que os seus “parceiros” juntos. O campo de manobra de Sánchez é mais reduzido do que aquele que se colocou no horizonte de Costa.
Deste lado da fronteira, a geringonça, malgrado a falta de alinhamento da direção, resistiu devido à recuperação económica e à acalmia social garantida pelo PCP.
Em Espanha, a situação fia mais fino. O Podemos queria lugar(es) na maquineta. Um desejo nunca calado. Porém, Sánchez quer imitar Costa. Um executivo monocolor, embora com independentes. De esquerda, obviamente.
O problema é que geringonça sanchiana não tem motor e os aliados já deixaram de o ser. A viagem será curta. Coisa para meses. É provável que Sánchez desça na próxima paragem. Depois os eleitores falarão.