Para quem vive em Lisboa, o barulho dos trolleys na calçada, a multiplicidade de línguas nos meios de transporte e a agitação noturna nos bairros históricos são já realidades que fazem parte do quotidiano.

O turismo é hoje o maior exportador nacional de bens e serviços tendo-se afirmado como um dos principais motores da nossa economia, devendo-se a ele grande parte do crescimento económico alcançado no primeiro trimestre, o mais expressivo dos últimos 10 anos. Só nos primeiros três meses deste ano foram criados 37 mil postos de trabalho neste setor, tendo o país recebido 5 milhões de turistas, revelando um crescimento de 11% face a igual período de 2016.

É certo que a instabilidade gerada pelas primaveras árabes e o receio de atentados terroristas em algumas capitais europeias, fez com que muitas pessoas reequacionassem os seus destinos de férias, deixando de parte paragens como a Tunísia, Egipto ou Turquia, beneficiando outros países mediterrânicos, onde se inclui naturalmente Portugal.

No entanto, a história de sucesso do turismo nacional não se deve apenas a um conjunto fortuito de acontecimentos, mas sim a uma estratégia bem delineada por um conjunto de atores ligados ao setor, em que se destacam os seguintes momentos decisivos:

  • Utilização de uma linguagem diferente. Com o objetivo de uma diferenciação face aos restantes países da bacia do mediterrâneo, todos eles com uma estratégia de comunicação assente em imagens de céu azul e em slogans, “venha viver a experiência”, o organismo público – Turismo de Portugal, passou a canalizar os seus recursos para o marketing digital, no qual o Facebook e o Instagram passaram a ser tão ou mais importantes que a presença em feiras internacionais.

Para que esta estratégia fosse bem-sucedida e não se perdesse na imensidão da internet, o Turismo de Portugal contratou especialistas em otimização de motor de buscas, os quais têm como única missão assegurar que as praias algarvias, os castelos de Sintra, as vinhas do Douro e as planícies alentejanas aparecem sempre bem posicionadas quando um turista procura o seu destino de férias.

  • Companhias aéreas Low cost. A instalação das bases de companhias como a Ryanair e a EasyJet nos aeroportos de Lisboa, Porto e Faro, permitiu um aumento sem precedentes do número de passageiros a aterrar em Portugal.

Para a decisão das suas administrações em instalar os centros operacionais em território nacional, pesou decisivamente os casos de sucesso da Expo 98 e do Euro 2004, nos quais já era percecionável o potencial destas cidades como destinos turísticos, sendo de realçar igualmente o empenho do governo e das autarquias locais que investiram fortemente no sentido de assegurar a atratividade das rotas.

  • Alojamento local. No final da primeira década deste século foi revista a lei dos empreendimentos turísticos, no sentido de simplificar a legislação em vigor e permitir a criação de novas unidades, tendo surgido a figura do alojamento local, fortemente alicerçado nos plataformas Airbnb e Booking, que vieram permitir uma elevada dinamização dos arrendamentos de curta-duração com uma extensão da cadeia de valor às obras de beneficiação e reabilitação urbana.

Se a estes momentos juntarmos as condições naturais do país – sol, clima, paisagens bonitas, monumentos assombrosos, gastronomia deliciosa e praias a perder de vista, estão reunidas as condições para que Portugal esteja definitivamente na moda.

No entanto, para que Portugal continue a surfar as ondas do sucesso é necessário que os nossos locais permaneçam visitáveis. Se as pessoas veem até Portugal à procura de experiências singulares, como ver um museu associados ao período dos Descobrimentos, visitar uma vinha no Douro ou andar de bicicleta junto ao Tejo, e se todos estes locais estão cheios, o que é que vêm cá fazer?

O turismo não é uma startup, é um negócio de longo prazo. Queremos que todos os nossos locais privilegiados, sejam eles urbanos ou não, permaneçam imutáveis no que têm de essencial e distintivo, e visitáveis daqui a cem ou trezentos anos.

Para isso temos de perspetivá-los como se de um parque natural se tratassem, adotando todas as medidas protecionistas que sejam necessárias para alcançar esse fim. Mesmo que seja necessário aumentar os preços e pedir mais dinheiro por cada estadia de hotel, pela visita de cada atração turística, podemos vir a ter menos turistas no curto prazo, mas asseguramos um maior valor acrescentado em cada visita e conseguimos desta forma, manter a singularidade das nossas cidades e a sua viabilidade no plano turístico numa perspetiva de longo prazo.

Não só a população fica mais satisfeita, como os turistas e a cidade agradecem.