Não é todos os dias que o CEO do BNP Paribas Portugal dá uma entrevista. Fabrice Segui tende a ser um homem discreto. Contudo, essa discrição foi interrompida na passada semana por uma entrevista em que, entre outras mensagens, deu nota do compromisso do BNP Paribas para com Portugal, do qual, aliás, a construção de uma nova sede é exemplo.

Atualmente com quase oito mil trabalhadores, entre Lisboa e Porto, o nosso país posiciona-se como o quinto maior empregador do BNP Paribas. Tendência de crescimento que é para manter, refere Segui, sendo que 80% a 85% desses trabalhadores são portugueses.

Até aqui nada a contraditar. Instituições de crédito como o BNP Paribas são muito bem-vindas em Portugal. Oxalá outros bancos europeus de igual dimensão seguissem as suas pisadas e investissem no nosso país, com isso gerando postos de trabalho e valor para os seus acionistas.

A entrevista, porém, teria duas ou três perguntas menos confortáveis para Segui. A determinada altura, o jornalista perguntou pela razão que levou o BNP Paribas a escolher Portugal. Foram os custos salariais?

Admitindo que tal não foi, e não é, irrelevante, Segui procurou diluir o peso dessa componente, realçando outras variáveis, tais como a qualidade da formação, a estabilidade do país, o facto de Portugal estar na Zona Euro, a nossa posição geográfica, bem como as semelhanças culturais com os negócios europeus.

Não ignorando que tais fatores terão sido tidos em conta, o jornalista insistiu na questão dos custos salariais. Foi mais longe, aliás, notando que nem todos os trabalhadores do BNP Paribas Portugal têm as condições dos restantes trabalhadores da banca.

Sem muito espaço de manobra, Segui realçou que o banco francês sempre respeitou tudo o que tem de respeitar em termos salariais. Melhor seria que não o fizesse, não é verdade?

Aqui chegado, quero ser justo. Longe mim acreditar que uma instituição desta grandeza pudesse ter outras práticas. Ou o próprio Segui que, em 2022, respondendo a uma pergunta do Questionário de Proust, afirmava que os seus heróis da vida real eram “todos os que trabalham afincadamente nos mais diversos setores para fazer evoluir o mundo”.

Comungo consigo desta admiração por quem trabalha, como não poderia deixar de ser. Mas para que esta apreciação dos heróis da vida real tenha verdadeiro sentido, importa dar um passo adicional. Os trabalhadores não deveriam ver recompensado o seu empenho e dedicação?

Com o ano de 2023 quase a terminar, pelo que espera ainda o BNP Paribas Portugal para atualizar as tabelas salariais e demais cláusulas de expressão pecuniária?

Se o BNP Paribas veio para Portugal por razões que superam em muito a simples questão dos custos salariais, haverá ou não, afinal, os merecidos aumentos para os heróis da vida real do BNP Paribas Portugal?