A ferrovia tem estado no centro do debate político e há boas razões para que isso suceda. Houve um continuado desinvestimento na rede ferroviária, que apresenta hoje flagrantes atrasos estruturais.

As dificuldades financeiras sentidas pelo país a partir de 2000 levaram ao encerramento de linhas e ao cancelamento de projetos de modernização da ferrovia, designadamente o que previa uma rede de alta velocidade. Isto numa altura em que a generalidade dos países da União Europeia dispõe de modernos sistemas de transporte ferroviário, que contribuem decisivamente para a competitividade das respetivas economias.

Como a nossa História nos ensina, o transporte ferroviário é um fator crítico de desenvolvimento. A introdução do caminho de ferro em Portugal, na segunda metade do século XIX, impulsionou fortemente o progresso socioeconómico do país e contribuiu para a sua coesão territorial. Hoje, o comboio continua a ter a mesma importância desenvolvimentista, não só pela mobilidade que proporciona aos cidadãos mas também pelas suas vantagens no transporte de mercadorias e matérias-primas.

O transporte ferroviário é mais célere, está mais apto para grandes volumes, tem menores custos logísticos e garante maior sustentabilidade ambiental quando comparado com o transporte rodoviário ou mesmo com o aéreo e marítimo.

Neste sentido, a ferrovia é essencial à competitividade do país e pode dar um novo impulso ao sector exportador. Daí que, quer a Comissão Europeia, quer a OCDE, estejam continuamente a alertar Portugal para a baixa densidade da ferrovia e para a subutilização das ligações ferroviárias a Espanha, que são também uma via para chegar ao resto da Europa.

Está em curso o plano de investimentos Ferrovia 2020, que prevê justamente o “fomento do transporte de mercadorias e em particular das exportações”. Mas, como o próprio Governo já admitiu, as obras do Ferrovia 2020 estão muito atrasadas. A taxa de execução do plano é baixa, retardando a concretização de projetos verdadeiramente estruturantes para a nossa economia, como a requalificação da ligação Lisboa-Porto (reduzindo o tempo de viagem para duas horas) e o corredor de mercadorias Sines-Badajoz, que implica a construção da linha Évora-Elvas.

Além dos atrasos, o Ferrovia 2020 peca por não contemplar um corredor de mercadorias Aveiro-Salamanca, que seria de grande proveito para as empresas do norte e centro do país. É aliás nestas duas regiões que se concentra muito do sector exportador português, pelo que esta solução teria um impacto significativo nas vendas ao exterior e na internacionalização da economia.

Bem sei que os investimentos em infraestruturas têm de ser cirúrgicos, dada a situação financeira do país. Mas a ligação Aveiro-Salamanca constituiria um ótimo complemento ao corredor Sines-Badajoz (ficaríamos com dois acessos rápidos à Europa) e sem dúvida que geraria retorno socioeconómico e produziria efeitos estruturais.