Estamos a cerca de dois meses do final do ano e 2016 arrisca ser, senão um horribilis, pelo menos um péssimo ano para a Administração Interna. Desde um Verão calamitoso com fogos cuja “praga” está prestes a terminar por nada mais haver para consumir, até às fugas, quer de assassinos quer de imigrantes magrebinos. Se é certo que em Portugal a culpa é filha de mãe solteira e acaba por morrer virgem, também não é menos certo que quando são precisos bodes expiatórios é sempre o borrego mais enfezado, frágil e desprotegido do rebanho que é sacrificado.

Há anos que vimos a nossa floresta esfumar-se – literalmente! Por um erro de ‘casting’, certamente, optámos por comprar três submarinos ao invés de afetar verbas a equipamento aéreo de combate a incêndios. Preferimos o ‘outsourcing’ internacional, bem mais oneroso. Ano após ano assistimos ao desespero nos olhos dos bombeiros, a famílias enlutadas a quem o fogo levou alguém e a incendiários reincidentes que, entretanto, depois de cumprirem pena (alguns) são postos em liberdade mesmo a tempo de darem um ar da sua (des)graça.

Finalmente alguém se lembrou que talvez tenha sido um erro acabarem-se com os Guardas Florestais e vá de “estudar” e “propor” o seu retorno ao serviço. Escrevo entre aspas porque vamos ver se até ao Verão se concretiza. É que quando se fala em “grupo de trabalho” e “criação de uma comissão”, cheira-me logo a bacalhau demolhado. Muita conversa, muita reunião e nenhum resultado. E quando surge algo de concreto, ou não é exequível pelas eternas restrições orçamentais ou são “band-aids”, pensos rápidos, em cotos amputados.

“Piloto” anda a monte há quase duas semanas. Desacerto na cadeia de comando entre a GNR e a PJ, real e completa incapacidade da GNR que não foi treinada nem possui meios adequados a uma operação desta monta, são alguns dos factos que deixam mal vistas as corporações. Mas estas são o borrego magro do problema. Quantas acções de formação de tiro tem um soldado da GNR após o seu ingresso na força?

Em pleno século XXI não seria altura de aderir a algumas novas tecnologias e usar ‘drones’ para sobrevoarem a região? Recentemente, o caso Aeroporto Humberto Delgado. Não adianta dizer-se que não houve falha na segurança. Não resolve dizer que tudo está bem e assobiar para o lado. É preciso olhar a questão de frente e resolvê-la. Já se percebeu que, nestes casos, mais do que algum tipo de erro humano que possa ter havido, o que existe é uma falha estrutural que tem de ser resolvida não apenas com os ‘inputs’ das forças de segurança, mas também com técnicos especializados em computação, robótica, engenheiros de estruturas e aeronáuticos, etc… E, sobretudo, afectar os omnipresentes escassos orçamentos à resolução clara dos problemas. Isso é economia e gestão. O resto são apenas pensos rápidos que não evitam hemorragias.

A autora escreve segundo a antiga ortografia.