Quedas de preço sem motivo aparente geram receios, que geram mais vendas e quedas de preço, que geram mais receios. Foi uma boa ilustração da mecânica reflexiva por trás do comportamento dos mercados financeiros, neste caso no curtíssimo prazo.

À medida que os dedos começaram todos a apontar para os produtos e derivados complexos indexados aos índices de volatilidade como principal fonte de vendas, os ânimos começaram a acalmar. Desta vez, a criatividade dos engenheiros financeiros não representava um risco sistémico material, estando os prejuízos dos tais produtos e derivados relativamente confinados aos investidores destes.

A ausência de risco sistémico não é no entanto motivo para esquecer o evento. O comportamento da volatilidade nos últimos anos, e explosão desta nas primeiras semanas de fevereiro requerem alguma análise. Na minha opinião, o padrão de extrema calma durante largos períodos de tempo contrabalançada por curtos períodos de extrema volatilidade, é o reflexo dois factores independentes.

O primeiro, e provavelmente mais importante, é a actual estrutura de mercado/métodos de negociação em que os algoritmos e a velocidade têm um papel tão pesado. Não quero ser interpretado como um Luddite, mas no caso dos mercados financeiros, a disseminação da tecnologia pelos métodos de decisão de investimento e negociação de activos tem o reverso obscuro de reduzir a transparência de mercado. Transparência que é crucial na construção da confiança necessária para o funcionamento estável do sistema financeiro.

O segundo factor advém da cada vez mais alargada adopção de estratégias de gestão passiva. Mais uma vez, com o objectivo de evitar interpretações erradas, faço uma ressalva: os produtos de gestão passiva que surgiram nas últimas décadas (ETFs maioritariamente), são provavelmente das invenções mais úteis para o investidor não profissional que surgiram nas últimas décadas. Permitem diversificação a um custo muito baixo. No entanto, como em quase tudo na vida, moderação é chave. Diversificação é valiosa, mas não em detrimento da análise sóbria das empresas e dos activos com compõem essa diversificação. Se cada vez mais os investidores profissionais seguem estratégias de gestão passiva que os levam a negociar um leque cada vez menor de activos sem fazer a análise cuidada do que os compõem (mesmo que esses activos tenham uma exposição muito alargada e diversificada), cada vez é mais provável que assistamos a movimentos de rebanho parecidos com o que experienciámos no início de fevereiro.

Estes dois factores têm vindo a criar um ambiente que leva ao tal padrão de extrema calma/extrema volatilidade e por isso seria importante que este evento de volatilidade servisse de lição para os que decidem acerca de investimentos e para os que regulam o mercado. A tecnologia é bem-vinda, mas no mundo dos mercados financeiros em que a confiança é um dos principais pilares do estável funcionamento, a sua disseminação deve ser mais moderada.