A epidemiologista e estatística Carla Nunes, da Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa, revelou esta terça-feira, durante a reunião de especialistas do Infarmed, que a perceção dos portugueses sobre as medidas do Governo para mitigar a disseminação do novo coronavírus melhorou. Contudo, sobre a perceção do estado de saúde mental em contexto pandémico, uma em cada cinco pessoas mostra-se “agitada, ansiosa ou triste”.
De acordo com a especialista, entre 6 e 19 de março, a perceção sobre o estado de saúde global manteve-se estável. Mas, registaram-se “padrões relevantes” na resposta dos inquiridos à pergunta se a pessoa se sente ansiosa e agitada, com 21,9% das pessoas a afirmar que se sentiam todos os dias, ou quase, agitadas, ansiosas ou tristes.
Desde 21 de março de 2020, que Carla Nunes e a sua equipa tem acompanhado as perceções dos portugueses aos efeitos da pandemia na saúde. A epidemiologista reiterou que a perceção “piorou até ao final de agosto” de 2020, observando-se melhorias em novembro e “até agora”.
“Em termos do indicador de perceção do estado de saúde global, tivemos 46,3% das pessoas a dizer que se sentiam piores, [a responder]com ‘muito mau’, ‘mau’ ou ‘razoável’. E um em cada 5, ou 21.9% das pessoas a dizer que todos ou quase todos os dias se sentia agitado, ansioso, em baixo ou triste devido às medidas de distanciamento físico”, afirmou Carla Nunes.
Acresce a diminuição da confiança no serviços de saúde, sendo que Carla Nunes observou nesse indicador uma recuperação “muito acentuada”. A 5 de março, 22,7% dos portugueses que tinham precisado de uma consulta não conseguiram ser atendidos. A 19 de março esse valor era de 17,4%.
Carla Nunes afirmou, ainda, que a população está mais compreensiva com as medidas tomadas pelo Governo, Se 68,9% as considerava pouco ou nada adequadas a 22 de janeiro, a 19 de março apenas 30,1% acha isso. Não obstante, há um “ligeiro aumento” de maus comportamentos, com os portugueses a sair mais de casa, a usar menos vezes a máscara e a não evitar visitas a amigos e família.
A epidemiologista e estatística afirmou que houve melhorias nos comportamentos desde setembro de 2020. Mas, nas últimas duas ou três quinzenas, observou-se um ““ligeiro aumento de piores comportamentos”. Por exemplo, os portugueses que usam “sempre” máscara fora de casa e com outras pessoas eram 86% a 19 de março, um valor inferior aos 91% de há um mês.
Quanto à frequência com que as pessoas saíram de casa no último mês sem ser para ir trabalhar todos ou quase todos os dias foi de 17% a 26,4%.
Carla Nunes salientou também que o uso da máscara e a lavagem frequente das mãos são medidas “muito individuais”, sendo que as respostas “muito difícil e difícil” são muito pouco frequentes nos resultados dos inquéritos. Ou seja, são medidas fáceis de adotar. Mas o mesmo já não se verifica no distanciamento físico, com 27% dos inquiridos a considerar a adoção do distanciamento físico difícil.
Mais preocupante é a dificuldade dos portugueses em evitar visitar familiares e amigos e ficar em casa, com Carla Nunes a considerar isso “pontos críticos”. Respetivamente, 36,9% e 35,2% dos portugueses consideram difícil evitar visitas a familiares e amigos e conseguir ficar em casa.
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