Porquê, Magnífico Reitor da Universidade de Coimbra, a fraca causa de atribuir o Honoris Causa a Jean-Claude Juncker, presidente da Comissão Europeia? Porquê? Ninguém acredita que tal aconteceu porque foi apadrinhado pelo Presidente da República. Por ser presidente da Comissão Europeia? Não é possível.
Doutor de Coimbra, a fazer fé na sua sabedoria geográfica “não se enganem, a Europa estende-se de Vigo a Varna. De Espanha à Bulgária”, só se for, como se diria noutro tempo, doutor da mula ruça!
Então, por causa das suas especialíssimas concepções de democracia, bem espelhadas nas suas palavras em Junho de 2006, ainda primeiro-ministro do Luxemburgo, sobre o voto não dos franceses em referendo sobre uma dita Constituição europeia e a propósito de outros votos referendários contrários à “doutrina oficial”: “Não são os dirigentes da Europa que estão avariados, são os povos”! Ou quando, a propósito do voto não do povo grego à proposta da Troika (UE, BCE e FMI) no referendo de 5 de Julho de 2015, e já como Presidente da Comissão Europeia, sintetizou todo o seu pensamento político na frase “não há democracia fora dos Tratados”!?
Por causa da sua estranha forma de considerar e respeitar a igualdade entre todos os Estados-membros, inscrita nos ditos Tratados, quando questionado sobre se a França não estaria obrigada como outros Estados, a quem se dita, chantageia e ameaça pelo cumprimento das imposições orçamentais do Pacto de Estabilidade, tem o nunca por demais lembrado dito: “A França é a França”!?
Por causa da sua particular atenção e zelo na aplicação de políticas ditas de austeridade, de facto de brutal agravamento e perpetuação de desigualdades e exploração, com o saque de salários e pensões, aumento da carga fiscal sobre o trabalho, degradação dos serviços públicos de saúde e educação e redução dos apoio sociais, produzindo pobreza, desemprego, e emigração!? Magnifico Reitor, por causa das restrições orçamentais impostas às universidades portuguesas, e também à Universidade de Coimbra!?
Por causa da sua prodigiosa prolixidade na invenção de rumos “alternativos” para o futuro da UE: o seu “pentilema”, cinco caminhos que afinal são um só, o mesmo de sempre, mais federalismo, neoliberalismo, militarismo!? Ou seja Magnífico Reitor, o laureado Honoris Causa, quer deixar este país velho a caminho de 9 séculos de história, soberano e independente, feito uma qualquer região europeia e o seu governo com a política externa, assuntos militares e defesa (a NATO tratará disso), a economia, as finanças, o orçamento, impostos e moeda, ao cuidado de um sr. Juncker qualquer, primeiro-ministro de um governo federal e simultaneamente, o que já hoje faz, vizir do chanceler alemão e capataz do grande capital europeu!
Por causa da sua especialização em “optimização fiscal” e consequente e empenhado trabalho como primeiro-ministro em transformar o seu país, o Luxemburgo, num paraíso fiscal? Assim facilitando a muitos dos grandes banqueiros e capitalistas, entre os quais os portugueses, um refúgio seguro no coração da UE, para os seus patrimónios mobiliários, para as suas fugas legais e ilegais ao fisco. Assim assegurando-lhes uma base obscura, opaca e silenciosa para as negociatas das suas holdings e offshores, em prejuízo das contas públicas, contribuintes e trabalhadores dos outros Estados-membros, onde supostamente têm sede e operam os seus bancos e grupos económicos e financeiros! Lembra-se do LuxLeak, sr. Reitor? Envolveu portugueses e continua, até hoje, invisível em denso nevoeiro! Por exemplo, só agora se soube que a NOS, desde 2014 no Luxemburgo, o usou para facturar 58 milhões a si própria, com um lucro de 10 milhões!
Sabe, certamente, Magnífico Reitor, que uma empresa chave no ruinoso desfazer do Grupo Espírito Santo, e instrumento central na falsificação e ocultação das suas contas estava sedeada no Luxemburgo. Mas isto fecha o circuito. Ricardo Salgado também teve direito ao Honoris Causa!