O ano que se inicia apresenta-se com um nível de risco especialmente elevado. Um dos maiores riscos é o novo presidente dos EUA, que toma posse a 20 de Janeiro. De acordo com uma sondagem do Financial Times, a generalidade dos economistas considera que o impacto proteccionista sobre o PIB deste país será mais negativo do que os benefícios de outras componentes do seu programa.
Ainda assim, as anunciadas medidas de desregulamentação norte-americana poderão servir de inspiração a outros países, em especial à UE, dando corpo a uma das recomendações do relatório Draghi. Perante os enormes desafios do futuro, a Europa definiu o objectivo quase ridículo de ser a melhor a regulamentar as novas tecnologias. Pode ser que a concorrência norte-americana traga algum bom senso, sem cair nos excessos dos EUA.
Em relação ao tema da imigração, parece existir um fosso entre os republicanos mais conservadores, totalmente contra, e os inovadores, liderados por Musk, muito favoráveis a imigrantes de elevadas qualificações. Se é certo que estas divergências deverão criar tensões dentro da nova administração, também é certo que deverão contribuir para moderar as intenções mais extremistas, que previam a expulsão de mais de dez milhões de imigrantes, o que seria muito penalizador para a economia dos EUA. Também aqui, é provável que as novidades americanas venham a inspirar políticos europeus.
De longe, a componente mais preocupante para a economia mundial em 2025 é a ameaça de uma escalada proteccionista, que poderá prejudicar os grandes blocos. A generalidade das instituições têm apresentado um cenário central favorável, melhor do que em 2024 no caso da zona euro, reconhecendo o risco de conflito comercial, mas não incorporando o seu impacto sobre as previsões, até porque ainda não são claros os seus contornos.
No caso da UE, há a possibilidade de negociar tarifas limitadas com os EUA em troca de forte aumento das importações de gás natural e de equipamento militar, o que parece ser do interesse de ambas as partes.
A tendência internacional que já se desenhava era a da diminuição do comércio entre blocos, mas aumento das transacções intra-bloco. Em particular, está em curso a reindustrialização da UE, em que Portugal deverá participar activamente, se criar condições estruturais de competitividade.
A Alemanha vai a eleições a 23 de Fevereiro, mas é possível que só haja governo alguns meses depois. Em França, há um novo primeiro-ministro, mas é duvidoso que o seu executivo seja duradouro. Ou seja, os dois principais países da UE poderão passar uma parte significativa do ano sem uma liderança forte e clara, precisamente num período de grandes desafios, a que será necessário fazer face.
Em Portugal, no Outono de 2025 teremos as eleições autárquicas e em Janeiro de 2026 as eleições presidenciais, o que deverá dificultar a criação de consensos políticos para reformas significativas, já que os partidos estarão mais focados em diferenciarem-se e em obterem bons resultados nas urnas. O facto de se antecipar que mais de 100 câmaras deverão mudar de presidente poderá acentuar a conflitualidade partidária.
O Orçamento do Estado para 2026 deverá constituir outro obstáculo, mas limitado, porque entre Julho de 2025 e, pelo menos, Março de 2026, não pode haver dissolução do parlamento. Tem que se acrescentar que, apesar de todas as ameaças, o desvio do OE25 face ao proposto foi de apenas 0,1% do PIB.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.