Este texto foi publicado originalmente no suplemento “Boletim Económico da Primavera”, que integrou o Jornal Económico de 9 de abril de 2021.

 

Os estímulos orçamentais americanos já levaram a uma tendência para subida das taxas de juro, antecipando receios do surgimento de tensões inflacionistas, não só nos EUA mas também a nível global.

Depois do pacote de apoios de Trump, à volta de quatro triliões de dólares, tivemos agora a aprovação de um novo ‘pacote Biden’ de 1,9 triliões de dólares e fala-se de um outro entre dois e três triliões de dólares para a revitalização das infraestruturas americanas, financiado em parte através da subida dos impostos às empresas de 21 para 28%, e noutra parte através de endividamento público.

Tudo isto contrasta com a lentidão com que na União Europeia (UE) se tenta implementar o pacote de 750 milhões de euros. O mesmo nas vacinas. Os EUA já terão vacinado cerca de 38% da sua população adulta, contra 58% no Reino Unido e apenas 14% na UE. Tal não pode deixar de ter consequências nos processos de recuperação económica, sabendo-se quanto é importante a dimensão da vacinação para se atingir a imunidade de grupo, implementar o desconfinamento e gerar confiança nos agentes económicos.

Os bancos centrais, designadamente a Reserva Federal (Fed) e o Banco Central Europeu (BCE), enfrentam agora o dilema típico de, se endurecerem a política monetária prematuramente, poderem fazer abortar a retoma económica que se perspetiva, mas se forem lentos a reagir a um surto inflacionista sustentado, terão depois dificuldades em controlar o processo.

Para já, a Fed entende que se está perante uma subida temporária e não permanente dos preços, sinalizando que acomodaria este disparo transitório nos preços mantendo taxas de juro baixas, enquanto a utilização da capacidade instalada for fraca e não se estiver no pleno emprego.

Por cá, o BCE parece também sinalizar essa postura paciente, até porque estamos longe da recuperação económica americana e porque terá que ter atenção a Espanha e França, que ficarão com dívidas públicas superiores aos 100%, juntando-se assim aos tradicionais países altamente endividados e fonte de grande preocupação: Portugal, Itália e Grécia.

A Comissão Europeia prevê um crescimento este ano para Portugal de 4,1%, o Ministério das Finanças é mais otimista (5,4%), tal como o FMI (6,5%), enquanto que para o Banco de Portugal cresceríamos 1,3% no cenário severo e 3,9% no cenário-base. Começará assim alguma recuperação, após a queda de 2020 em que o nosso PIB em volume retrocedeu para os níveis de 2008!

Segundo o Indicador Diário de Atividade Económica do Banco de Portugal, teremos voltado a crescer em termos homólogos em relação ao primeiro trimestre de 2020, impulsionados pelas exportações e pelo consumo privado, justamente as variáveis que mais tinham sido afetadas.

Como aspetos positivos para sustentar a recuperação poderemos ter a aceleração do plano de vacinação, gerando confiança no desconfinamento e nos agentes económicos, mas o fim das moratórias de crédito e dos apoios serão certamente ameaças para a nossa recuperação, a qual também estará muito dependente, em termos de exportações de mercadorias e de fluxos turísticos, do que se passar nos nossos principais parceiros e na frente sanitária.