Existe uma convicção generalizada que as eleições se ganham ao centro, sendo certo que tal pode não corresponder inteiramente à verdade atual do sentido do espetro político. A tendência de rasgar ao meio a opção dos eleitores não tem tido correspondência, nem na prática política, nem na fixação ideológica. A divisão simplista entre o centro-direita de um lado e do outro, o centro-esquerda não tem tido uma manifestação de equilíbrio.

Nos últimos cinco atos eleitorais, o centro-direita apenas uma vez – em 2011 – alcançou entre si os 50% das escolhas dos eleitores, enquanto em todas as restantes eleições a esquerda teve sempre 47,5% ou mais dos votos (sucessivamente 58,9%, 55,3%, 41,2% e 53,3% em 2015). Uma posição pouco equilibrada face às sucessivas governações e tendências eleitorais. Ou seja, em Portugal, o centro está reconhecidamente mais à esquerda.

A ideia da existência de um eleitorado do centro (acho que fica melhor de centro) – flexível e sem determinação ideológica – foi profundamente desafiada com a instituição da “geringonça” com (de) António Costa. No início da presente legislatura, a opção por uma fórmula PS com apoio parlamentar do BE e do PCP assumiu desde o princípio uma marca exclusiva de esquerda, embora a atual solução governativa assente mais numa reação contra as políticas do governo anterior do que na ação por iniciativa própria de um Governo socialista.

Sob o lema a austeridade é de direita e a reposição de direitos é de esquerda, o governo socialista ziguezagueou entre os anúncios de medidas patrocinadas pela maioria parlamentar e o controlo de despesa pública que contrariou o discurso socialista, mas manteve amarrados os parceiros à esquerda, na estrita medida em que se ofereciam migalhas parlamentares.

Esta perspetiva tem sido contrariada na Europa onde, ao longo dos anos, o centro tem estado… ao centro. Mas os mais recentes resultados têm crescentemente mostrado uma desagradável tendência do vetor do centro a deslocar-se para o lado direito, pelo crescimento da direita nacionalista e da extrema-direita, sem que os partidos do centro-direita tenham sido particularmente afetados, mas com uma perda assinalável dos partidos de esquerda. Foi assim na Alemanha, Áustria, França e até na circunspecta Suécia.

Em todos estes países a extrema-direita cresceu. Tendencialmente, este crescimento assentou numa reação às políticas relativas aos migrantes e refugiados e aos apelos primários de contestação aos custos da sua integração, a xenofobia e a racismo puro.

Em Portugal não vivemos este sentimento. Mas importa assinalar que os refugiados não representam um peso significativo. Caso contrário, poderíamos correr esse risco – sempre possível, sempre presente – de surgirem movimentos extremistas que podem pôr em causa o equilíbrio social que o Estado tem coberto. O reforço eleitoral da esquerda pode contribuir para um “acordar” dos extremismos, nomeadamente à direita. Importa impedir este desequilíbrio.

O eixo do centro vive na estabilidade, na coerência e na confiança que os protagonistas oferecem. Exige-se que este seja puxado para a direita, porque o sistema não precisa de mais desequilíbrio que neste momento a esquerda representa. O eixo à volta do qual o centro gira não precisa de contemporização com a esquerda, com os adversários, com os que ameaçam sistematicamente com a instabilidade social.

O centro que buscamos e onde está a classe média estabilizada, precisa de liderança, moderação, convicção e confiança de quem fale para estes. Não é preciso muito.