O Sudão do Sul é um país rico em petróleo, tendo as terceiras maiores reservas de hidrocarbonetos da região subsariana. Campos ricos em hidrocarbonetos ligados por oleoduto à costa do Mar Vermelho.
O controlo destas importantes jazidas levou, depois de uma guerra prolongada à partição do Sudão em Sudão do Sul e República do Sudão em 2011. Desde o dia da independência o Sudão do Sul mergulhou numa guerra civil pelo petróleo.
Apesar de uma enorme riqueza mineral e de uma população relativamente escassa, cerca de 12 milhões de habitantes, no Sudão do Sul grassa a pobreza, a ignorância, a desigualdade e um PIB muito reduzido (1900 dólares norte-americanos por pessoa), tudo traduzido num índice de desenvolvimento humano dos mais baixos do mundo.
A exploração do petróleo tem estado sempre na mão de empresas estrangeiras. Primeiro a Chevron, depois um consórcio, sueco-austríaco-malaio, com alguma participação sudanesa, cedo dominado pela família sueca Lundin.
Para exploração intensiva a Lundin expulsou a população de toda a região de Thar Jath, mas os protestos levaram à suspensão da extração em 2002. Dezenas de milhares de pessoas foram desalojadas, milhares morreram. As expulsões foram levadas a acabo por milícias pró-governamentais que encontraram resistência por parte de grupos de autodefesa. A guerra civil contribuiu para o objetivo de despovoar a zona, permitindo uma exploração do petróleo sem obstáculos e sem respeito pelas normas ambientais internacionais.
Os suecos venderam a sua posição à Petronas (malaia) e os austríacos alienaram a sua quota à OLV (India) que se tornaram então os acionistas principais em conjunto com a companhia sudanesa. Este grupo continua hoje, ainda que tendo aberto o capital a uma empresa sul-sudanesa e a uma companhia chinesa que se tornou dominante. Mais de 80% do petróleo extraído é comprado pela China.
O Sudão do Sul é terra de um conjunto vasto de etnias: os Dinka, os Nuer, os Bari, os Azande, etc. que falam mais de 60 línguas. Coexistem várias religiões, uma maioria de crentes animistas e minorias cristãs (anglicanos e católicos) e muçulmanas.
Nesta guerra civil de um lado temos as forças do Presidente Salva Kiir, líder do Exército Popular de Libertação do Sudão, e do outro as forças do vice-presidente Marchar, o Movimento Popular de Libertação do Sudão do Sul. Marchar pertence à etnia Nuer e Kiir é apoiado pelos Dinka.
As armas que alimentam estes conflitos parecem indicar os alinhamentos internacionais dos contendores. O Presidente Kiir obtêm as suas armas de proveniência ucraniana e israelita. O governo dispõe de helicópteros Mi-24 vendidos pela Ucrânia e de aviões de vigilância de fabrico austríaco e norueguês que lhe garantem superioridade aérea. As forças de Marchar têm sido abastecidas essencialmente pelo Sudão e por munições dos stocks da ex-URSS que ficaram nos vários países do Pacto de Varsóvia hoje integrados na União Europeia.
Parece claro que o principal objetivo externo da guerra é perturbar a produção petrolífera prejudicando o país que o compra, i.e. a China, e por outro lado gerar receitas da venda de armas. Assim vemos que as potências ocidentais vendem armas que são compradas com o dinheiro do petróleo vendido e por outro paralisam a produção prejudicando a China.
A guerra civil e a baixa do preço do petróleo provocaram um aumento do deficit externo e o disparar da divida externa. Dentro em breve o Sudão do Sul estará a alocar a maior parte da receita da venda do petróleo ao serviço da dívida, pouco ficando para o desenvolvimento económico e social do país.
A guerra civil originou já quase dois milhões de refugiados, dos quais mais de meio milhão em países vizinhos e muitos a caminho da Europa.
Um conflito sem fim à vista e que se insere no contexto de crescente hostilidade ocidental para com a emergência chinesa.
Por Jorge Fonseca de Almeida,
Pós-graduado em Estudos Estratégicos e de Segurança