Os ventos de mudança que se fazem sentir em todo o mundo em prol da sustentabilidade ambiental estão a abalar os fundamentos das grandes petrolíferas de uma forma nunca antes vista. Esta semana, um fundo ativista ‘verde’ denominado Engine n.º1 penetrou no ‘santo dos santos’ da ExxonMobile, ao conseguir indicar dois representantes para o conselho de administração da petrolífera americana.

Por sua vez, os acionistas da Chevron votaram favoravelmente uma moção para que a companhia “reduza substancialmente” a sua oferta de produtos poluentes, ao passo que um tribunal de Haia atendeu às pretensões de um grupo ecologista e decidiu que a anglo-holandesa Shell deve diminuir as suas emissões em 45% até 2030, antecipando a meta do seu plano estratégico.

Estas vitórias da causa ecologista surgem numa altura em que as preocupações ambientais estão cada vez mais na ordem do dia, apesar de a recuperação da economia no pós-Covid apontar para um aumento significativo do consumo de combustíveis e dos lucros das petrolíferas, durante este ano e o próximo. Por exemplo, a ExxonMobile lucrou 2,7 mil milhões de dólares no primeiro trimestre, o que ajuda a compreender a aparente indiferença dos mercados à entrada de um cavalo de Tróia ecologista no seu board (as ações subiram 0,7% após a notícia).

Apesar da mudança em curso, o sector vai continuar a existir por muitos anos, até porque uma grande parte do mundo ainda depende – e dependerá por muito tempo – de petróleo e de gás natural. Mas o seu crescimento futuro não passará por aí – tal como o das tabaqueiras não estará nos cigarros tradicionais. Não obstante o efeito anestesiante dos lucros que o sector continuará a apresentar durante mais alguns anos, a mudança em curso a nível global está a gerar uma incerteza enorme que pende sobre as empresas de oil & gas como uma espada de Dâmocles: a consultora Wood Mackenzie atribui o valor de 14 biliões (milhões de milhões) de dólares a esta incerteza.

Para empresas como a BP, a Shell, a Chevron, a ExxonMobil ou a portuguesa Galp, existem duas opções: a primeira será aceitar que o mundo vai mudar e que dentro de algumas décadas o sector será menos lucrativo e relevante, aproveitar os “bons anos” que lhes restam para gerar o maior valor possível para os seus acionistas e dar-lhes a possibilidade de aplicarem essa liquidez noutras atividades com maior potencial de crescimento, como as energias renováveis. Apesar do marketing ‘verde’, muitas empresas do sector estão na realidade a proceder desta forma, talvez por não terem os recursos necessários para fazerem uma transformação radical dos seus modelos de negócio.

A segunda opção será as próprias empresas de oil & gas investirem em energias renováveis e procurarem diversificar as suas atividades, com a aposta em áreas como a mobilidade elétrica ou novos negócios digitais.

Porém, sem know-how nessas novas áreas, as petrolíferas estarão em desvantagem face a outros players que já nelas operam há anos. Em qualquer sector de atividade, a necessidade de ter mão de obra especializada costuma ser um dos principais obstáculos à mudança tecnológica e o oil & gas não será exceção.

Haverá todo um caminho e uma aprendizagem a fazer, bem como avultados investimentos. Em muitos casos, as únicas formas de entrar nesses novos mercados será através da compra de operações já em funcionamento, pagando os correspondentes prémios. Estarão os acionistas das empresas de oil & gas, em muitos casos habituados a generosos dividendos (a Galp, por exemplo, entregou aos seus acionistas a totalidade dos lucros de 2019), dispostos a arcar com a sua quota parte deste esforço que o sector terá de fazer para se reinventar nas próximas décadas?