No segundo semestre do ano passado os australianos descobriram que uma lei de 1990, o Parliamentary Entitles Act 1990, lhes dava o direito de ter um retrato da Rainha Isabel II de graça, bastando pedi-lo ao seu membro do Parlamento. Vai daí, avançaram em grandes números.

Na realidade, a lei permite-lhes ter “material patriótico”, como bandeiras ou gravações do Hino Nacional, mas o que eles quiseram mesmo foi fotografias oficiais da Rainha. Podiam também pedir uma fotografia do Duque de Edimburgo, o Príncipe Philip, mas aparentemente foi opção com muito pouco sucesso. William, Kate, Harry e Meghan não fazem parte do menu. O engraçado da história é que isto só se aplica aos australianos. Para os ingleses, escoceses, canadianos, etc., népias, que façam download de uma foto e mandem emoldurar.

Não deixa de ser curiosa esta assimetria: tudo apontaria para que fosse ao contrário, mas não. No fim de contas, o Palácio de Buckingham é em Londres, a Rainha passa a maior parte do tempo nas Ilhas Britânicas, portanto é onde é maior a proximidade entre Monarca e súbditos. E permitiria também reduzir o desemprego em Inglaterra nestes momentos complicados de Brexit, com postos de trabalho que agradariam a adeptos da monarquia como aos pró-republicanos: se uns podem dizer que trabalham para dar mais projeção e presença à Família Real, os outros podem sempre dizer que enquanto trabalham estão a enrolar a Rainha.

Mas não, é nos antípodas que a coisa se passa, e com força. Bastou um artigo na revista “Vice” para que toda a gente (na Austrália) pedisse o que lhe era devido. O deputado Alex Greenwich recebeu 40 pedidos no primeiro dia; Albanese Grayndler mais de 100; Tim Watts, 50; Rebekha Sharkie, 25 pedidos em 12 horas; isto sem falar nas dúzias de pedidos recebidos por Malcolm Turnbull, o primeiro-ministro, e por Tanya Plibersek e Anthony Albanese, do Partido Trabalhista.

Imagine-se o que seria isto em Portugal: poder pedir ao nosso Parlamento uma fotografia de um deputado, governante ou figura do Estado de borla. Seria um sucesso, maior que na Austrália. Claro que os mais incrédulos diriam que era apenas mais despesa pública, que acabaria a embrulhar castanhas.

Não acredito, acho que genuinamente iria aproximar governantes e governados, muito mais que outras iniciativas que têm sido seguidas. E poderia inclusive poupar despesa: por exemplo, porque não substituir as eleições por pedidos de fotos? Quem tivesse mais pedidos ganhava, e até era bom num país que pretende promover o turismo – em vez de termos todos aqueles cartazes meio rasgados espalhados pelas paredes e muros, tínhamos os cartazes no recato da nossa casa, sem poluição visual exterior e com certeza mais bem mantidos.

Confesso que uma coisa me deixa intrigado: quem seria a figura política mais solicitada. Quanto ao segundo lugar, não tenho a mínima dúvida, seriam os dardos.