Se já passou pela situação de estar a falar com alguém e essa pessoa não ouviu nada do que acabou de lhe dizer porque está entretida a utilizar o telemóvel, então é porque foi alvo de phubbing. Phubbing é um termo que resulta da combinação das palavras phone (telefone) e snubbing (ignorar) e, apesar de não estar enraizado no discurso dos portugueses, a situação que pretende designar está seguramente.

Essa situação deixou de ser um momento insólito para passar a ser algo simplesmente natural. Uma decorrência do mundo cada vez mais tecnológico em que vivemos e do qual dependemos. Um pequeno preço a pagar pela variedade de utilizações que os telemóveis de hoje nos permitem alcançar.

Ora, esta mudança de mentalidade tem, naturalmente, um impacto evidente nas relações pessoais. Já se absteve de dizer alguma coisa porque a outra pessoa com quem pretende falar está a utilizar o telemóvel? Já se sentiu incomodado porque num grupo de amigos a maioria está mais concentrada no telemóvel do que interessada no tema da conversa? É muito provável que sim e infelizmente os exemplos multiplicam-se.

Não deixa de ser curioso verificar que os telemóveis, que surgiram precisamente para aproximar as pessoas, sejam agora os responsáveis pelo distanciamento que é criado entre elas. Mas mais importante que o distanciamento criado pelo fenómeno do phubbing – que parece estar enraizado na nossa convivência social – é perceber onde se baseia e o que o potencia.

Segundo um estudo publicado no Journal of Behavioral Addictions, em Junho de 2014, que analisou a dependência da internet nos jovens portugueses, 60% dos jovens estão em risco de ficarem viciados na internet. Este é um valor preocupante que, atendendo à evolução do mundo digital, só pode ter tendência a aumentar. Deixou de ser incomum ver crianças com cerca de três anos de idade a utilizarem, com destreza, smartphones, tablets, etc. E é precisamente por esta relação com a tecnologia se iniciar mais cedo que este estudo indica que são os mais jovens que revelam sinais de maior dependência face à internet.

Esta dependência está associada ao facto de, cada vez mais e com maior intensidade, as pessoas viverem no mundo virtual. A necessidade de publicar o que se está a fazer e, se possível, fazê-lo em tempo real, a necessidade de acompanhar o que os outros fazem, o que os outros publicam, o que aconteceu naquele segundo revela que estamos demasiado dependentes das redes sociais.

Segundo Tony Rao, professor convidado de Psiquiatria no King’s College de Londres, que escreve para o The Conversation, esta dependência pode não causar danos físicos, como aqueles que são causados pelo tabaco ou pelo álcool, mas tem o potencial de a longo prazo provocar danos nas nossas emoções, comportamentos e relações.

Este problema não tem sido encarado em Portugal com grande seriedade. Porém, pensar que esta dependência não é um problema sério, só porque é recente ou porque não a compreendemos, não é a melhor resposta. Até porque a utilização excessiva do telemóvel origina problemas bem conhecidos como a depressão, a ansiedade e o défice de atenção.

Ninguém ignora que toda esta dependência é proporcionada por certos mecanismos que existem na estrutura das aplicações que utilizamos. Os gostos no Facebook, os gostos e os seguidores do Instagram, a reprodução automática de vídeos no Youtube ou de músicas no Spotify e as constantes notificações das aplicações, são formas de nos manter ligados. E quanto mais ligados estamos, mais ligados pretendemos estar.

Se acha que passa demasiado tempo no telemóvel e pretende resolver essa questão, talvez deva começar por saber quantas vezes e durante quanto tempo utiliza o telemóvel ao longo do dia. Para tal, faça download de uma aplicação como a In Moment (ou outra semelhante). Se constatar que passa mais tempo do que pretende ao telemóvel, crie um limite à sua utilização (a aplicação também ajuda nisso). Enfim, não deixa de ser curioso resolver um problema criado pela tecnologia, com mais tecnologia. Talvez seja esse o caminho.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.