[weglot_switcher]

PIB português poderá recuar 6% ao ano com crise climática, indica estudo

Embora as maiores economias sejam os principais responsáveis pelos atuais níveis de poluição, nomeadamente a Índia e os Estados Unidos, são os países mais pobres que sofrerão as maiores consequências. Só a Singapura, a Tailândia e as Filipinas perderão mais de 30% do PIB todos os anos até 2050, segundo uma estimativa da Oxfam e a Swiss Re Institute.
7 Junho 2021, 11h21

As maiores economias do mundo poderão ver a sua riqueza a recuar duas vezes mais do que na crise da Covid-19 se não conseguirem gerir o aumento das emissões de gases de efeito estufa.

De acordo com uma investigação conduzida pela Oxfam e a Swiss Re Institute, divulgada, esta segunda-feira, pelo “The Guardian”, os países do G7, um grupo composto pelas maiores economias do mundo, vão perder cerca de 8,5% do PIB por ano, ou cerca de cinco biliões de dólares (five trillion dollares), nos próximos 30 anos caso as temperaturas ultrapassem os 2,6 graus Celcius — uma previsão cada vez mais perto de se concretizar segundo as estimativas de cientistas e investigadores consultados para a investigação.

Só em termos de comparação, este grupo de economias perdeu cerca de 4,2% do PIB devido à pandemia da Covid-19, que obrigou a uma paralisação e confinamento das atividades económicas. Os impactos de uma possível crise climática poderão, no então, ser superiores. Só a economia portuguesa recuaria 6,3% todos os anos até 2050 com base nas atuais políticas ambientais, em comparação com uma queda de 2,3% caso os compromissos do Acordo de Paris, de 2015, fossem honrados. A nível mundial, estima-se que o PIB desvalorize perto de 14%.

O grupo que sofrerá as maiores perdas será a associação de Nações do Sudeste Asiático, que segundo a estimativa, perderá 29% do PIB todos os anos até 2050, sendo que só a Singapura, a Tailândia e as Filipinas perderão mais de 30%.

Entre as maiores economias, os Estados Unidos verá 7,2% do seu PIB cair anualmente, enquanto que o Reino Unido perderá 6,4% e o conjunto dos países europeus 8%.

A estimativa da seguradora Swiss Re teve em consideração os impactos diretos previstos da degradação climática, incluindo condições climáticas extremas, como secas e inundações, bem como os efeitos na produtividade agrícola, saúde e stress térmico.

Jerome Haegeli, economista-chefe do grupo Swiss Re, afirmou ao jornal britânico que “as alterações climáticas são o risco número um a longo prazo para a economia global, e ficar onde estamos não é uma opção —  precisamos de mais progresso por parte do G7. Isso significa não apenas obrigações de redução de CO2, mas também ajudar os países em desenvolvimento. Isso é super importante”, nomeadamente, em termos de acesso às vacinas contra a Covid-19.

A seguradora descobriu que as políticas e promessas dos governos para reduzir as emissões de gases de efeito estufa ainda estão aquém das metas do acordo de Paris.

Antes do Cop26 —  Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas de 2021 — , o Reino Unido vai pedir que todos os países apresentem novas estratégias e metas para combater o aumento da polução, a fim de cumprir as metas de Paris de limitar o aquecimento global abaixo de 2 graus Celcius, e de preferência não mais que 1,5 graus Celcius, acima dos níveis pré-industriais. O limite inferior está cada vez mais ameaçado, já que as emissões de gases de efeito estufa devem aumentar drasticamente este ano, para o segundo maior salto já registado, devido à recuperação da recessão da Covid-19 e ao aumento do uso de carvão.

https://jornaleconomico.pt/noticias/aie-emissoes-de-carbono-deverao-atingir-em-2021-segundo-nivel-mais-alto-da-historia-728459

Os especialistas da Agência Internacional de Energia (AIE) estimam que as emissões de dióxido de carbono atinjam novos máximos em 2021, fazendo deste o segundo maior aumento anual registado. O primeiro registou-se há cerca de uma década, altura em que grande parte do mundo recuperava da crise económica. Em 2010, esse aumento foi de 6%.

O uso crescente do carvão, o combustível fóssil mais sujo, para eletricidade é o principal motivo para o aumento das emissões, especialmente na Ásia e nos Estados Unidos. Esta recuperação do carvão causa particular preocupação uma vez que acontece  numa altura em que a energia renovável é mais barata do que o carvão.

Por sua vez, Danny Sriskandarajah, presidente-executivo da Oxfam GB salienta que “a crise climática já devastou vidas nos países mais pobres, mas as economias mais desenvolvidas do mundo não estão imunes”, disse, acrescentando que “o governo do Reino Unido tem uma oportunidade única numa geração de liderar o mundo em direção a um planeta mais seguro e habitável para todos”.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.