Após décadas de negociações fracassadas e de acordos transgredidos, a luta contra as alterações climáticas parece começar agora a descolar. Na mais recente conferência dos membros das Nações Unidas, denominada COP27, obteve-se luz verde nas negociações do acordo em torno de “perdas e danos”.

Modelos mais avançados permitem aos cientistas quantificar até que ponto os desastres climáticos, pelos quais países subdesenvolvidos foram atingidos, são causados por emissões de gases de efeito estufa (GEE). Dado que cerca de 75% destes gases são produzidos pelo G20, o acordo trata de indemnizar e financiar a transição para as energias renováveis dos países mais empobrecidos. António Guterres propôs taxar as empresas produtoras de combustíveis fósseis, embora ainda esteja por acertar o método de financiamento do fundo, assim como os seus beneficiários.

Numa linha mais teórica, a evolução tecnológica das últimas décadas permitiu um avanço bastante significativo no combate às alterações climáticas, em particular através da diminuição do tradeoff entre PIB e GEE. Tem especial ênfase nos países desenvolvidos e ocorre, essencialmente, por duas razões. A quantidade de energia necessária para produzir o mesmo número de bens e serviços diminuiu, ou a energia utilizada é menos poluente. A explicação está, essencialmente concentrada na primeira.

A intensidade energética no Ocidente mostra uma clara tendência negativa nas últimas décadas (dos poucos países industrializados onde isto não se verifica é Portugal, onde aparenta uma ligeira subida, face a 1975). Aquela é explicada pela mudança estrutural que atingiu os países mais avançados, nomeadamente a transição de uma economia de serviços, pois é um setor que requer menos energia por unidade produzida. Nos Estados Unidos e China, registou-se uma subida de 9 e 20 pontos percentuais, respetivamente, de percentagem do PIB produzido pelo setor terciário nos últimos 25 anos, enquanto o setor secundário registou uma descida média de cinco pontos percentuais para o mesmo período.

Embora não na mesma medida, as energias renováveis têm tido um papel mais preponderante na economia. A proporção da produção de eletricidade proveniente de energias “verdes” a nível global aumentou oito pontos percentuais, ao passo que na Europa aumentou 19 pontos, e verifica-se a mesma tendência em relação ao consumo de energia. Além disso, previsões das Nações Unidas e Stern School of Business apontam que nos próximos anos a China terá uma redução na quota de exportações, em detrimento de países como o Vietname e a Índia, que emitem menos CO2, quer este seja normalizado pelo PIB ou pela população.

Contudo, existe sempre a outra face da moeda. Esta tendência não se tem verificado com a mesma intensidade em países menos desenvolvidos, que ainda não transitaram para uma economia de serviços. Enquanto se mantiverem desproporcionalmente industrializados, é expectável que a poluição atmosférica continue a acompanhar o crescimento do PIB a nível mundial.

Assim sendo, procura-se uma convergência do nível de desenvolvimento económico com os países desenvolvidos, que passará por um maior investimento em capital humano e tecnologia. Para tal, será essencial ajuda financeira dos países desenvolvidos e, para que esta alcance o fim acordado, combater a corrupção nos países recetores.

Com base nesta discussão, torna-se evidente que o progresso na vertente climática passa por uma maior cooperação entre países desenvolvidos e subdesenvolvidos. Ainda assim, o relatório sobre a lacuna de adaptação, publicado este ano pela ONU, indica que os fundos de adaptação às alterações climáticas canalizados para estes últimos países estão entre cinco a dez vezes abaixo do necessário. O acordo sobre “perdas e danos” foi certamente um passo na direção certa, mas ainda se avizinha um longo caminho a percorrer.

O artigo exposto resulta da parceria entre o Jornal Económico e o Nova Economics Club, o grupo de estudantes de Economia da Nova School of Business and Economics.