Enquanto Rui Rio não se resolve e decide se é carne ou peixe, se acorda com o desejo profundo de ser o noivo de António Costa num Bloco Central de poder de inspiração alemã tão ao seu gosto, ou se cai na tentação de dar um abraço ao líder do único partido que cresce à direita e lhe pode dar o respaldo para uma maioria governativa – falo de André Ventura e do Chega –, o país vai continuando sem um líder firme na oposição.
Sou da opinião há muitos anos que Portugal só tem a ganhar se um governo, e o seu primeiro-ministro, puderem contar com um partido e um líder da oposição que saiba malhar no momento certo, bem como depois estar disponível para acordos de regime quando eles são indispensáveis para a melhoria da vida das pessoas ou para salvaguarda da democracia.
É lamentável que o PSD se tenha atolado num paupérrimo apeadeiro de um caminho sem norte chamado Rui Rio. Mesmo no encontro das direitas organizado pelo MEL, foi óbvio que ele era a ave rara que por ali pairava, envergonhado, numa figura caricata, tentando fazer humor com a sua vacinação e tendo de vir a terreiro proclamar que não era de esquerda nem direita, só lhe faltando confirmar que era um ser híbrido e mero amanuense especializado em Excel e que a política não é com ele, mas isso já todos nós sabemos.
Bastava olhar para um conterrâneo que foi a sua Némesis (alguém lhe ensine o que isto é ou que vá ao Google) para aprender a ser eficaz no combate político. Jorge Nuno Pinto da Costa tem 83 anos e continua a ter o dom de comunicar bem no tempo certo, talento que Rio nunca terá pois continua a ser um desastre nesta matéria.
Com um país sem vacinas contra os dois pesos e duas medidas e desprovido de bom senso, bateu forte naquilo que ficou à vista de todos. A incongruência de ser proibido público em estádios e pavilhões quando 16 mil ingleses espalharam magia no Porto na Champions e concertos de música em espaços fechados são permitidos no Rosa Mota.
Pinto da Costa tem um historial de longas batalhas contra diversos protagonistas e entidades. Acima de tudo contra o centralismo da capital, que foi o cimento aglutinador da nação portista quando se tornou um potentado na conquista de títulos no futebol, sem esquecer a dura troca de galhardetes contra o Rui Rio presidente da Câmara do Porto que nunca permitiu o festejo das vitórias dos dragões nos Paços do Concelho.
Mas há uma evidente e abissal diferença entre estes dois homens, com todos os defeitos que possam ter: Pinto da Costa é um líder nato, Rui Rio é um cavaleiro de triste figura, um apeadeiro, um minúsculo rodapé na história do PSD.
Ainda ontem afirmava acreditar que “o desgaste do Governo pode ajudar o PSD a alcançar o poder”, sinónimo de “deixa-me fingir de morto até aquilo cair de podre”. É um fraco desígnio, é pequenino, é de chefe de uma modesta repartição. Basta recorrer a Séneca para saber que “alguns chefes são considerados grandes porque lhes mediram também o pedestal”.
Rio julga-se maior que o trono onde está sentado, basta de se enganar a si próprio. Aprenda a ser eficaz com quem foi o verdadeiro líder da oposição na última semana, Jorge Nuno Pinto da Costa.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.