O extraordinário crescimento económico do terceiro trimestre embasbacou a direita e estoirou a agenda de Passos Coelho. O crescimento económico entrou em desaceleração no primeiro semestre de 2015 e, apesar de dar mostras de estar a recuperar no início de 2016, não apresentava ainda valores robustos, o que animava o PSD e o CDS e permitia centrar a sua visão dos acontecimentos longe das conquistas alcançadas pelo Governo do PS: seja a perspectiva de obtenção de valores para o défice compatíveis com as promessas do Governo, assegurando a saída dos procedimentos de défices excessivos; seja a indiscutível redução do desemprego à custa da criação de postos de trabalho e não da redução da população activa; seja a boa performance do investimento directo estrangeiro (IDE) ou das exportações, apesar da contaminação da direita a um suposto colapso da confiança no país! Tudo isto com devolução de rendimentos e redução da carga fiscal, as opções que diziam ser impossíveis de compatibilizar com crescimento e controlo do défice.

Na verdade, à direita, a aposta era que o crescimento pouco expressivo seria o acontecimento certo para validar o discurso do diabo. Este era, porventura, o arnês da oposição ao Governo de António Costa. Eis o pirolito que restava. Era, de facto, a única coisa que os segurava na corda bamba, onde decidiram fazer piruetas e acrobacias inventadas para dourar o espectáculo de medo e sofrimento que foram montando nos últimos meses. Diziam que o modelo era errado, que a redução do défice nunca seria alcançada, que as autoridades europeias não aceitariam um caminho alternativo, que as agências repreenderiam o país e que os juros disparariam. A cada momento que tombava um argumento, emergia de rompante, pelas vozes algo incrédulas de tanto falhanço discursivo, o tal problema, diziam eles, do fraco crescimento.

Mas se o PSD e o CDS ficaram desprogramados com os resultados do terceiro trimestre que confirmaram 1,6 % de crescimento face ao período homólogo, e que (quase) garante os compromissos da evolução do PIB para 2016, podemos afirmar que o resto do status quo da Europa ficou de queixo  caído. Portugal foi mesmo o país que mais cresceu, em contraciclo com o resto da Europa a 28.  A geringonça passou a ser o case study  europeu. Um modelo de governação de esquerda que aporta estabilidade e traça um caminho alternativo, encaixando-se no discutível pacto de estabilidade. Tudo isto é um tormento para o mainstream europeu engolir.

O autor escreve segundo a antiga ortografia.