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PJ abre inquérito a milhões gastos por Bruno de Carvalho no Sporting

Mais de dois milhões de euros de saídas suspeitas de dinheiro da Sporting SAD denunciadas em auditoria. Investigação judicial já está em curso e tem na mira suspeitas de crimes de falsificação, burla e fraude fiscal.
  • JOSÉ SENA GOULÃO/LUSA
28 Abril 2019, 13h00

A Polícia Judiciária (PJ) já abriu um inquérito às saídas suspeitas de dinheiro da Sporting SAD, na presidência de Bruno de Carvalho, depois de, no início desta semana, a SAD leonina ter enviado àquela entidade de investigação nacional as conclusões da auditoria da Baker Tilly que sinalizam um total de 2,090 milhões de euros de pagamentos suspeitos a advogados, ao clube de futebol cabo-verdiano Batuque FC e ainda a uma empresa chinesa de brindes. O Jornal Económico sabe que na mira da PJ estão suspeitas de crime de falsificação de documentos, burla, fraude fiscal, entre outros crimes de natureza patrimonial e económico ou financeiros.

A investigação da PJ foi aberta na semana em que esta entidade recebeu um conjunto de documentos de eventuais práticas que podem constituir prejuízo patrimonial e reputacional para o Sporting.

Contactada pelo JE sobre a investigação em curso, a direção nacional da PJ afirmou que “não  comenta”.

Em causa está o relatório de auditoria da Baker Tilly às contas da SAD entre junho de 2013 e junho de 2018, cujas principais conclusões foram reveladas nesta quarta-feira, 10 de abril, pelo Correio da Manhã e pelo jornal desportivo Record.

Segundo o CM, a auditoria à Contas da Sporting SAD, contratada pela comissão de gestão, conclui que destapa sobretudo três saídas suspeitas de dinheiro, no total de 2,090 milhões de euros, na presidência de Bruno de Carvalho. Fora os casos de alguns pagamentos de elevadas comissões nas transferências de jogadores, já sob investigação-, a atual direção do clube  liderada por Frederico Varandas fez chegar esta segunda-feira, 8 de abril, à PJ, para averiguação, os casos dos pagamentos suspeitos a advogados (1,7 milhões), ao Batuque FC (330 mil euros), de Cabo Verde, e ainda a uma empresa chinesa de brindes (60 mil euros) de nome Xao Li, segundo o CM.

A principal suspeita de saídas de dinheiro, incide, assim, em gastos relativos a serviços jurídicos – “assuntos da presidência” – com a sociedade de advogados MGRA, do sogro, Rui Ornelas, e de Alexandre Godinho, vice-presidente do clube, entre 2015 e 2018. Foram efetuados, ao todo, pagamentos de 1,7 milhões de euros, mais do que o clube gastou com este tipo de serviços nos últimos 16 anos.

Outro suporte documental remetido para a PJ, no início desta semana, prende-se com o pagamento de 330 mil euros ao Batuque FC, segundo o CM, por ordem de Bruno de Carvalho, dias antes de sair do clube, no verão passado. Um pagamento que terá sido efetuado alegadamente em troca do direito de preferência sobre sete jogadores daquele clube cabo-verdiano, não existindo, no entanto, qualquer relatório técnico de apreciação destes atletas.

Sporting confirma que enviou relatório às autoridades

Na quarta-feira passada, o Sporting confirmou, em comunicado, que enviou o relatório de auditoria a “entidades de investigação nacionais”

O conselho diretivo do clube explica que o documento relativo à gestão da direção liderada por Bruno de Carvalho está concluído”, e que foi entregue “às entidades de investigação nacionais e ao Conselho Fiscal e Disciplinar” do emblema ‘leonino’, além de ter pedido para o disponibilizar para consulta “a todos os sócios com quotas em dia” a partir desta sexta-feira, 12 de abril.

No mesmo comunicado o clube liderado por Frederico Varandas critica ainda a publicação de notícias com os resultados da auditoria da Baker Tilly ao afirmar que “o Sporting Clube de Portugal viu hoje [10 de abril] exposto um conjunto de temas da vida do Clube que de maneira alguma deviam ter sido exibidos da forma como foram”.

Mais de um milhão em ‘scouting’ sem rasto

Segundo estas notícias, além das três saídas suspeitas de dinheiro (2,090 milhões), a SAD do Sporting investiu ainda um milhão de euros em scouting sem receber relatórios, durante o mandato de Bruno de Carvalho.

De acordo com o Record, a passagem à lupa da contabilidade do clube de Alvalade revelou que o departamento de scouting teve despesas que “ascenderam a cerca de 3,426 milhões de euros”, mas não há sinais de relatórios de 1,025 milhões de euros. Ou seja, a SAD não obteve relatórios mas pagou-os. Entre 680 nomes referencidos só foram contratados três. Além disso, foram encontradas “deficiências” no interior desta equipa.

A auditoria forense que foi entregue à direção dos ‘leões’, num total de 256 páginas, faz ainda uma radiografia aos atos de gestão do Sporting desde 2013, bem como aos custos por jogo dos atletas formados no clube.

Elevado montante de numerário sem ser depositado

O documento, segundo o díario desportivo, revela, por exemplo, que Jorge Jesus custou mais 20 milhões de euros e que o Sporting teve mais de um milhão de euros em ‘dinheiro vivo’ em Alvalade. “O Sporting manteve por períodos muito alargados montantes de numerário significativos sem serem depositados em bancos”, escreveram os auditores no documento final, acrescentando que esta prática “dificulta significativamente o controlo de tesouraria e proporciona o seu uso indevido”.

Vários contratos arriscam ser alvo do fisco

Os auditores advertem ainda para o risco de a administração fiscal considerar os valores pagos em direitos de imagem como parte de remuneração (IRS e Segurança Social) de Schelotto, Bryan Ruiz, Jonathan Silva, Everton, Naldo, Montero e Heldon.

O clube de Alvalade enfrenta, assim, o risco de novos processos do fisco por ter pago a vários futebolistas uma parte do seu rendimento em direitos de imagem, evitando o pagamento de IRS e Segurança Social.

Nos esclarecimentos prestados pelo clube à auditora, “aqueles montantes são efetivamente componentes da remuneração daqueles jogadores”. E a Baker Tilly não tem dúvidas: “A Sporting SAD não usufruiu de quaisquer proveitos decorrentes da exploração daqueles direitos”.

O Sporting pagou entre 2014 e 2018 um total de 2,8 milhões de euros em direitos de imagem no conjunto daqueles sete jogadores.

Artigo publicado na edição nº 1984, de 12 de abril, do Jornal Económico

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