Todos os dias ouvimos falar da pandemia e das soluções europeias e governamentais para atenuar o inevitável stress económico da mesma. Todos os dias os mais atentos à economia tentam perceber que soluções existem, que valores estarão disponíveis, em que formatos de capital e que canais serão usados para capitalizar as empresas que precisarão de se continuar a financiar.

Toda esta discussão parece circunscrita ao poder central e à banca enquanto fontes de financiamento para as empresas e foca-se maioritariamente no crédito. É natural que assim seja dada a dimensão do crédito bancário a empresas em Portugal mas parece esquecer que as empresas precisam de capitais próprios. Tirando as empresas que venham a ser financiadas pelo recém-criado Banco de Fomento (demonstrando que não têm acesso ao crédito bancário), só as empresas que tiverem acesso a capitais próprios e viabilidade económica se conseguirão financiar nos próximos meses de enorme pressão para o sistema bancário.

Reconhecendo que o poder central terá um papel relevante e que a banca será chamada a avaliar a situação financeira das empresas para atribuição de crédito nos próximos trimestres, fica por esclarecer como vão as PMEs portuguesas viáveis angariar capitais próprios para se apresentarem à banca e obter financiamento? Dito de outra maneira, como é que conseguirão apresentar rácios financeiros que lhes permitam passar no crivo dos bancos se não tiverem capitais próprios?

Nos EUA, durante o segundo trimestre do ano e em plena crise, o mercado de capitais mobilizou-se e captou, junto de investidores de todas as dimensões, valores recorde para investir em dívida empresarial e capital das empresas americanas. No Reino Unido, a situação foi semelhante. Talvez por isto, estejamos habituados a dizer que estes países são sempre os primeiros a sair das crises.

Os mercados de capitais devem funcionar com detetores de oportunidades e nestas alturas os investidores investem nas empresas que melhor conhecem e que acreditam vão sobreviver, através de diferentes veículos de investimento, dando-lhes o capital necessário para crescer em cada crise.

Em Portugal, muito por força da regulação e de um passado recente, os pequenos e médios investidores que estão disponíveis para assumir algum risco, investem maioritariamente em fundos e seguros que lhes dão exposição a ativos internacionais diversificados.

A teoria é boa e difícil de rebater mas a consequência é perversa para a economia Portuguesa. Na prática, as poupanças dos portugueses estão a ser usadas para financiar empresas alemãs, norte americanas, japonesas… e esses valores não se transformam em capitais próprios para as empresas portuguesas que poderão ser tão ou mais competitivas. Se os portugueses não investem nas empresas que conhecem e acreditam, dificilmente outros o farão.

Se acreditamos que uma parte significativa das PMEs portuguesas são viáveis, temos que ter veículos de investimento capazes de angariar capital próprio junto de investidores privados e investi-lo nas PMEs, permitindo que as mesmas sobrevivam e se tornem mais fortes para gerar crescimento no pós-covid.

Curiosamente estes veículos existem. Um deles chama-se SIMFE (Sociedade de Investimento Mobiliário de Fomento à Economia) e está disponível na Euronext Lisboa. Com um objetivo semelhante, existem também os Fundos de Capital de Risco mas esses são colocados fora de mercado, exigem montantes de investimento inicial mais elevados e não costumam distribuir dividendos, pelo que são menos adequados a pequenos investidores.

No entanto existe apenas uma SIMFE, a Flexdeal, cotada desde 2018 e que parece querer fazer o que os fundos americanos e ingleses fizeram: levantar capital em tempos de crise para investir nos mercados locais e remunerar os seus investidores.

Voltando à pergunta inicial a resposta é sim, o pequeno e médio investidor português pode ser a solução para as PME’s nacionais, pelo menos de algumas delas, investindo em veículos que apostem em Portugal e que, alocando capitais próprios a PMEs viáveis e maduras, permitirá aos respetivos empresários apresentar-se à banca em melhores condições e construir o seu futuro.

Admitindo que estes investimentos são feitos de forma capaz, a remuneração para o investidor surgirá na forma de dividendos e mais valias na eventual venda das ações. Não é um investimento sem risco mas poderá ser um risco que alguns investidores portugueses podem querer correr. A economia Portuguesa agradece.