Não há nada melhor para o desenvolvimento da Humanidade do que líderes moderados. Por mais defeitos que tenham, o “bipartidarismo” e “centrão” político, que passámos a desdenhar sobretudo depois da última crise económica, são a via política que, historicamente, mais progresso e paz social nos trouxe.
Sucede que nesta era dos feeds, tweets e likes, a moderação é uma coisa chata. E os partidos do “centrão”, adormecidos por uma experiência de décadas de alternância governativa, acabaram fintados pelos que cedo compreenderam o valor de mensagens simples, agressivas e de muitas “partilhas” e likes.
Quase ninguém lê um programa político, mas todos lemos um tweet com poucos caracteres de insultos e idiotices. Ninguém quer saber de uma cimeira do G7 com líderes “normais”, mas todos querem assistir a uma cimeira protagonizada por dois excêntricos com atitudes ridículas, mensagens básicas e chocantes (como por exemplo, tratar um ditador sanguinário como um “tipo duro”) e capazes de, em meia dúzia de horas, darem a ilusão de resolver o que os moderados demoram anos. O “fogo de vista” parece valer mais hoje em dia do que a substância.
Mas urge olhar para a História. Os EUA tornaram-se na maior potência mundial também porque, com maiores ou menores diferenças pessoais entre os seus líderes e respetivas “excentricidades”, sempre houve fronteiras ideológicas inultrapassáveis que uniram Democratas e Republicanos. A maior democracia do mundo nunca teve dúvidas sobre quem são os seus aliados inalienáveis no mundo e com quem se pode ou não negociar. Até hoje. Em cerca de um ano e meio de mandato, Trump está a conseguir destruir todo um capital de décadas e são ainda incomensuráveis os danos que o atual líder norte-americano causará ao equilíbrio das relações internacionais, quer do ponto de vista político, quer económico.
A moderação dificilmente ganha eleições na atualidade, a não ser que venha com uma nova roupagem. Provas disso são os casos de Emmanuel Macron e do nosso Presidente Marcelo. Aliás, o brilhantismo de Marcelo tem-se revelado também pela extraordinária compreensão das exigências de “forma” que a realidade atual comporta e que este homem de 69 anos entende como poucos. Sendo um moderado, não é por acaso que é omnipresente na comunicação e o rei da selfie. É porque os tempos assim o exigem. Somos claramente uns privilegiados por ter um político responsável a ocupar o espaço que facilmente seria ocupado por um qualquer populista.
Não deixa de impressionar a forma como tantos – de todas as classes e graus de formação – ainda se deixam fascinar por populistas e demagogos. É que, por mais que se distingam na fisionomia ou no momento histórico em que emergem, têm todos características semelhantes: agressivos, impulsivos, divisionistas, excêntricos, erráticos, bem falantes e com mensagens fáceis de compreender, revolucionários (“eles contra o mundo”), pouco sérios. Mas há ainda mais uma coisa essencial que os une: por onde passam causam rapidamente danos tremendos e acabam sempre mal. E fazem vítimas pelo caminho: todos nós.