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“Podemos antever um arrefecimento do mercado”

Responsável coloca de parte o cenário de crise, mas a guerra na Ucrânia pode deixar em stand by ou suspender os investimentos.
17 Dezembro 2022, 20h00

Hugo Santos Ferreira, presidente da Associação Portuguesa de Promotores e Investidores Imobiliários (APPII), afasta o cenário de crise no mercado imobiliário, mas antecipa um cenário de incerteza.

Com os preços dos imóveis a subir nas principais cidades portuguesas, bem como o m2, o receio de uma crise imobiliária em 2023 é real?
Na minha opinião este cenário não se coloca, o sector tem sido capaz de contornar as dificuldades. Devido à atual conjuntura económica, social e geopolítica (guerra na Ucrânia) podemos antever no futuro próximo, em especial na promoção imobiliária residencial e em particular para targets mais acessíveis, um certo arrefecimento do mercado, um certo stand by, ou efeito suspensivo no investimento, esperando por períodos de mais clareza. Para os promotores imobiliários acresce a incerteza de qual o “teto” dos preços da construção, da mão-de-obra (que cada vez escasseia mais) e da matéria-prima. Saber qual o preço e o seu custo de financiamento vão ser chave. Mas o arrefecimento ou abrandamento não são sinónimos de quebra, nem tão pouco de colapso nos preços. É que, mesmo com uma diminuição normal e esperada do lado da procura de casas acessíveis – classe média e classes mais baixas – e em particular dos portugueses, a verdade é que, mesmo assim, não vamos atingir o equilíbrio na oferta. Isto é, a falta de oferta de casas e muito de casas novas ou reabilitadas é de tal ordem, que mesmo essa diminuição não será suficiente para face fazer à falta de oferta. Depois, sempre teríamos de dizer que, para os segmentos mais altos do residencial, o efeito da diminuição do lado da procura não será praticamente sentido. Portugal soube posicionar-se como um destino preferencial para o turismo ou para o investidor imobiliário a uma escala mundial.

Que desafios se colocam ao sector com a previsível subida da inflação e taxas de juro?
Num primeiro momento haverá certamente um abrandamento nos projetos que ainda estão no papel, até existir uma situação mais estável em que os investidores possam avaliar melhor a situação atual e realizar projeções a médio e longo prazo seguras. Numa segunda fase, a maior exigência que o aumento dos preços traz ao mercado pode resultar numa reavaliação dos projetos e consequentemente da oferta, creio que isto pode prejudicar sobretudo a oferta disponível para a classe média. Se hoje neste segmento a oferta é escassa face à procura, creio que esta situação pode ser agravada com o aumento da inflação, por isso é importante trabalhar para a redução dos custos de contexto como referi anteriormente. Grande parte dos de contexto resulta da elevada tributação dos imóveis em Portugal, e a inflação agrava este ponto. É essencial que o governo a reveja este ponto para estimular o aumento da oferta de habitação para a classe média. Esta deve ser aliás uma prioridade, os investidores e promotores imobiliários estão disponíveis para trabalhar com o governo em medidas que estimulem a oferta para a classe média.

Os custos da construção continuam a disparar devido à crise das cadeias de abastecimento de materiais e pela falta de mão-de-obra no sector. Podem estes factores potenciar o mercado de arrendamento?
Poderia se as rendas baixassem, porque estão tão altas que é impossível um português arrendar no litoral. Porque também não há oferta. A instabilidade legislativa que vigora há décadas neste setor afasta os grandes investidores deste mercado em Portugal, recorde-se que na generalidade da Europa este é um mercado dinâmico, atrativo para todos. O estado aqui poderia ter um papel determinante, quer na canalização de parte do seu património para o mercado de arrendamento quer através da criação de políticas efetivas para atrair investidores a este mercado.

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