Os checks and balances do sistema político português têm de funcionar agora que o PS dispõe de maioria absoluta.

Temo o pior, atendendo ao histórico da “geringonça”. Fenómenos de nepotismo, jobs for the boys, nacionalizações de empresas sem olhar a custos, nomeações de “políticos” para cargos em instituições que tem por função controlar o Estado, na Procuradoria Geral da República, na Procuradoria Europeia, no Tribunal de Contas, no Banco de Portugal e interferências na autonomia das ordens profissionais.

Resta-nos o controlo por parte do Presidente da República, por parte do sistema judicial e pelos meios de comunicação social.

Sou dos que acreditam que o povo não quis dar maioria absoluta ao PS, mas outrossim impedir que houvesse um governo PSD, apoiado pelos partidos de direita, motivando um voto útil à esquerda que inadvertidamente conferiu um poder absoluto ao PS.

Já escrevi que todos aqueles que dependem do Estado, só por si, permitem eleger e condicionar um governo de esquerda, senão vejamos: temos 2.070.387 pensionistas por velhice, 720.764 pensionistas de sobrevivência, 152.369 pensionistas com reforma antecipada, 257.844 beneficiários de rendimento social de inserção, 178.577 pensionistas pró-invalidez, 718.940 funcionários públicos e 181.101 trabalhadores em empresas públicas, o que dá um total de 4.279.982 eleitores que dependem directamente do Estado.

Também já o referi em vários artigos sobre o salário mínimo, que o recente aumento e promessa de aumento do mesmo, beneficia actualmente 954.483 trabalhadores.

Em síntese, 5.234.465 eleitores, segundo dados da Pordata 2020, dependem do Estado e que ainda se lembram das medidas da troika, causadas pelo PS mas executadas pelo PSD e por Pedro Passos Coelho.

Foi esta base de apoio que votou maciçamente no PS, com receio de que a direita lhes viesse tirar direitos adquiridos e/ou não cumprisse a promessa de aumentar ainda mais o salário mínimo. Por isso, nos debates apenas se falou da privatização da Segurança Social e da sua sustentabilidade e do salário mínimo…

E assim não vejo esperança nas reformas do país. Não há coragem política para afrontar a base natural de apoio eleitoral.

E assim a melhor geração de sempre vai continuar a emigrar.

E assim a sustentabilidade da segurança social e das contas públicas vai degradar-se.

E, finalmente, o sector privado e os jovens (que não dependem do Estado), vêem o seu futuro penhorado.

O poder absoluto apenas servirá para o mesmo: servir os de sempre. Triste fado.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.