Começaria por um tema de grande atualidade que tem a ver com os níveis de poupança das famílias Portuguesas que de acordo com a mais recente informação se encontram abaixo dos 6% do rendimento disponível e a aproximarem-se do mínimo histórico dos 5%, valor verificado pela primeira vez, no segundo trimestre de 2015.
Estes números, preocupantes, trazem para cima da mesa várias questões nomeadamente a de como estimular a poupança e onde aplicar parte do rendimento disponível. E aqui gostaria de introduzir algumas reflexões na forma como nos relacionamos com a nossa habitação.
Uma primeira reflexão relaciona-se com a decisão de comprar ou arrendar e a sua escolha pode ter a ver com poupança, já que se comprar estará a adquirir uma reserva de valor de grande qualidade, podendo esse património como bem real ser transmitido às gerações futuras, ser vendido e transformando em valor para fazer face a momentos difíceis da vida, ser utilizado como garantia para se obterem recursos na banca e se porventura decidirmos não habitar mais nele, pode ser uma excelente fonte de rendimento através do seu arrendamento.
Se por outro lado e tendo condições para comprar, optar por arrendar, talvez por achar que o compromisso é menor e que tem mais mobilidade, tenha em conta as recentes noticias que destacam o aumento do numero de denuncias de contratos de arrendamento, que em relação a 2013 quase duplicaram, fazendo com que muitos arrendatários sejam confrontados no final do prazo do contrato, tipicamente de 5 anos, com elevados aumentos na renda obrigando a sistemáticas mudanças de habitação. Tenha também em consideração que a renda que paga está a pagar a poupança dos outros.
Uma segunda reflexão tem a ver com a retoma do crédito habitação que tal como noticiado recentemente e em comparação com período homologo apresenta um crescimento acima dos 30%, estimando-se que em 2017 esses empréstimos atinjam um valor superior a 7.000 milhões de euros, ainda longe, contudo dos cerca de 19.629 milhões de euros, de acordo com os dados “Pordata”, concedidos no longínquo ano de 2007 às famílias portuguesas.
Este instrumento financeiro permite às famílias, com menos capitais próprios e rendimentos, a oportunidade de comprarem e deterem, em conjunto, a sua habitação e a sua reserva de valor e àquelas com mais rendimento e capitais próprios a possibilidade de comprarem mantendo as suas poupanças.
Em resumo, através do pagamento de uma renda ao banco, consegue-se construir e obter património real ao longo do tempo, estruturando assim a construção de poupança futura.
Curioso, também, que dados estatísticos comprovam, que nos últimos 17 anos, os anos de maior nível de poupança das famílias coincidiram com os anos de maior valor de credito habitação concedido.
E daí valer a pena refletir se de facto poderá o crédito habitação ser um bom instrumento de poupança para as famílias portuguesas, sobretudo para aquelas com menos recursos e possibilidades.