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Poesia em Viagem: Cendrars entre o caos e a memória

Os últimos tempos têm sido pródigos em relatos de viagem na forma desenhada. Usando do talento para a ilustração, são já muitos os viajantes que optam por registar desta forma as suas observações. Mas importa não esquecer que há quem utilize a palavra de forma soberba para narrar impressões de viagem.
23 Junho 2017, 10h50

É o caso do poeta Blaise Cendrars (1887-1961), suíço de nascimento mas naturalizado francês em 1916. Toda a sua obra – poesia, romances, reportagens e memórias – está marcada pelo signo da viagem, da aventura e da descoberta. Dada a profissão do pai, homem de negócios, o jovem Frédéric-Louis Sause (seu nome verdadeiro) deambulou entre Nápoles, a Alemanha e Neuchâtel, antes de ser enviado para Moscovo e São Petersburgo, em 1904, para aprender um ofício, uma vez que os resultados escolares eram medíocres. Chega precisamente quando começa a guerra russo-japonesa, onde os dois impérios tentavam conquistar territórios na Coreia e na Manchúria e cuja perda pelas tropas do Czar contribuiu para a fragilização que conduziria à Revolução de 1917.

Na Rússia, trabalha com um relojoeiro suíço e faz uma viagem no Transiberiano (que alguns põem em dúvida, dada a instabilidade política na Rússia). Em 1907 regressa à Suíça para estudar Medicina na Universidade de Berna e, após uma curta estadia em Paris, regressa a São Petersburgo em 1911. No final desse ano, viaja até Nova Iorque, onde descobre a via mecânica e veloz da modernidade, e é nessa cidade que vai escrever o seu primeiro poema – “Páscoa em Nova Iorque” –, poema fundador da poesia moderna. Assina-o como Blaise Cendrars.

Em 1912, já em Paris, torna-se amigo de Apollinaire, Chagall, Léger, Modigliani e Delaunay, entre outros. Durante a Primeira Guerra Mundial junta-se à Legião Estrangeira e é ferido com gravidade – é-lhe amputado o braço direito, tendo de aprender a escrever com a mão esquerda. Em 1924 desloca-se ao Brasil, viagem após a qual se lança nos romances, entre eles “Moravagine”. Quando rebenta a Segunda Guerra, junta-se ao Exército Britânico como correspondente e, durante a ocupação alemã, muda-se para Aix-en-Provence.

Em “Poesia em Viagem”, editado pela Assírio & Alvim, estão compiladas “Páscoa em Nova Iorque”, “Prosa do Transiberiano” e “O Panamá ou As Aventuras dos Meus Sete Tios”, viagens poéticas, onde são evidentes as três maiores características da sua poesia: velocidade, caos e memória.

A sugestão de leitura desta semana da livraria Palavra de Viajante

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