Fernando Esteves está em Luanda a trabalhar no lançamento do Polígrafo África lusófona quando tirou mais de 20 minutos para falar ao telefone com o JE sobre o seu novo projeto. Foi um longo caminho até aqui. A ideia surgiu há dois anos, mas só começou a ser materializada no espaço do último ano.
Na nova etapa em África, o Polígrafo garante que vai continuar a fazer marcação cerrada à desinformação: “vamos escrutinar os políticos. Se cumprem ou não o contrato que fizeram com os eleitores nas campanhas e nos programas. Vão ser tão escrutinados em África como em Portugal”, garantiu o fundador e publisher do primeiro jornal português de fact-checking.
“Não viemos para retirar nada a ninguém. Os conteúdos são disponibilizados livremente e nem sequer vamos disputar o mercado publicitário”, acrescentou. A primeira parceira para estes mercados está fechada com o Facebook no âmbito do Third Party Fact-Checking Program, à semelhança do que acontece em Portugal. “Estamos confiantes de que os nossos parceiros em Portugal estarão connosco em África, tendo em conta os enormes desafios que lá existem no domínio da desinformação através das redes. Será tudo uma questão de tempo”.
Sobre novos mercados, o jornalista defende que, primeiro, é “preciso consolidar a operação em África, fazer com que entre em velocidade cruzeiro, torná-la sustentável”. Daqui a “dois anos”, admite a possibilidade de “apostar no Brasil”, mas somente quando houver a “certeza” de que existem “condições editoriais e financeiras para avançar”. “O Brasil representa 200 milhões de potenciais leitores”.
O publisher do Polígrafo Portugal e África Lusófona vai mesmo mais além, com a eventualidade da expansão para “outros territórios com comunidades portuguesas nos EUA e no Canadá”: “mini Polígrafos quase numa lógica local”.
“O nosso projeto esgota-se onde se esgota a língua portuguesa, Felizmente, a nossa língua é das mais faladas do mundo”, segundo o jornalista, que foi publisher do grupo Media N9ve (dono do JE) entre 2022 e 2023.
A equipa conta com cerca de 20 jornalistas em Angola, Cabo Verde, Moçambique, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe.
E quais as diferenças entre a desinformação entre os diferentes mercados? “Em Portugal, a desinformação é um misto de negligência por parte dos utilizadores das plataformas, mas depois existe também desinformação organizada”.
“Aqui o que reina é o caos. Não há muita desinformação organizada, o que existe é uma sede enorme por parte do cidadão comum de ter uma voz. As pessoas não se revêem nas organizações jornalísticas de referência, que normalmente estão ligadas ao Estado. Sinto que existe uma desconfiança em relação a estas organizações, que só passam a mensagem do Estado, do Governo. E os boatos e rumores ganham velocidades estonteantes. E quase tudo se passa no Whatsapp”, explica.
Sobre o facto de ser o primeiro jornal luso a apostar nestes mercados, considera que a “imprensa portuguesa está muito fechada em si própria. Não sei porque é que nenhum grupo de media em Portugal pensou em vir para estes mercados”.
O advogado e empresário N’Gunu Tiny (também líder do grupo Media N9ve) continua a bordo do projeto: “Tem sido um parceiro ideal para mim. É um democrata. Acredita muita na imprensa livre. Respeita muito a liberdade editorial”.
E como é que o Polígrafo gostaria de ser visto nestes países no médio e longo prazo? “Como um órgão que pratica jornalismo totalmente independente e sem concessões. Gostaria que se reconhecesse que desempenhámos um papel no amadurecimento da democracia destes países”.
“Não estamos numa guerra contra os políticos, mas estamos num romance com a verdade”, conclui Fernando Esteves.
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