1. Nos últimos dias, ficámos a saber que os deputados eleitos da Iniciativa Liberal (IL), oito, vão querer sentar-se no plenário da Assembleia da República (AR) entre o grupo parlamentar do PS e o grupo parlamentar do PSD. Só quem não ouviu os debates com João Cotrim de Figueiredo, dizendo repetidas vezes que a IL era do centro e que até é liberal nos costumes, poderá surpreender-se.

Mas a verdade é que a IL aproveitou os vários debates para também deixar no ar a ideia de que estava a colher os votos dos descontentes do PS e do PSD, tendo até recebido apoio de destacadas figuras do antigo CDS, caso do ex-militante Afonso Mesquita Nunes, antes putativo candidato à liderança do partido, tendo com isso atraído milhares de votos que, noutras circunstâncias, iriam parar ao PSD e ao CDS.

Quase diríamos tratar-se de um caso de “fraude” política ao mais alto nível, com a IL em pleno início de um mandato de maioria absoluta do PS querer estar colada no Parlamento ao partido da maioria e querer situar-se à esquerda do PSD, um partido que desde sempre representou dezenas de milhar de eleitores, do centro-esquerda ao centro-direita.

As imagens valem por mil palavras. Quando começarem os trabalhos parlamentares, e depois desta polémica espúria do vice-presidente da Assembleia da República poder ser, ou não ser, Diogo Pacheco de Amorim – que trabalhou diretamente com o centrista Diogo Freitas do Amaral no CDS e, anos depois, com Manuel Monteiro, enquanto líder do CDS –, veremos o novo figurino.

A IL é o “Ai Jesus!” dos jornalistas espalhados pelas várias redações depois do quase ocaso do Bloco de Esquerda, que agora é um microgrupo parlamentar com ampla presença nos media. O líder da IL perdia debates consecutivos com os seus adversários à esquerda e à direita e era elogiados pelos comentadores e pela maioria dos jornais.

Agora quer centrar-se entre os dois partidos do eixo da nossa democracia e ninguém lhe aponta o dedo com a contradição do seu eleitorado, que até conta com vários destacados militantes que saíram das fileiras do PSD para o CDS, atraídos por um partido que parecia respirar ar novo, com propostas liberais concretas e uma política de comunicação bem feita pelo ex-militante e antigo vereador da edilidade de Lisboa do PSD, Diogo Saraiva.

Este quadro militou durante anos na JSD, andou pelo PSD Lisboa e agora é caso para dizer que admite que a IL se cole ao PS, tornando-se um partido que quer ser muleta num próximo governo minoritário, ora do PSD, ora do PS.

2. Os mais recentes casos de ciberataques a infraestruturas nacionais é algo de uma gravidade inexplicável. As informações existentes admitem que se tratou de ataques visando paralisar o funcionamento de áreas críticas do país, algo equivalente a ciberterrorismo. O país ficou vulnerável, quase de joelhos, e só não foi pior porque, possivelmente, quem atacava quis apenas fazer experiências e não ir até ao fim.

As autoridades limitaram-se a reconhecer as dificuldades em detetar este tipo de grupos criminosos e, por isso, daqui para a frente sabemos que estaremos vulneráveis em tudo que diga respeito a telecomunicações, saúde, hospitais, ajudas de emergência, ensino, distribuição e, possivelmente, em infraestruturas de segurança e defesa.

O ataque serviu, pelo menos, para perceber que estamos fragilizados.