Os ingleses fazem a distinção entre policy e politics, a política e a politiquice, a decisão e o jogo. Em Portugal, temos tido muito o segundo caso, depois de se instalar uma mais profunda crispação entre áreas políticas, depois de umas eleições legislativas que resultaram num parlamento fragmentado, e, mais acentuadamente, desde que é necessário negociar e aprovar o Orçamento do Estado (OE) para o próximo ano.
Nesta altura, não fazemos ideia de quais são as políticas que serão seguidas, nomeadamente na fiscalidade, pior ainda quando sabemos que o decisor político gosta de fazer reformas fiscais na lei do OE. Ou seja, a previsibilidade é, atualmente, nula; estamos embrenhados num intenso nevoeiro para 2025 e para os anos seguintes, sem que possamos planear o que quer que seja.
Mas temos a perfeita noção do que tem sido a politiquice, o jogo político entre os maiores partidos, os braços de ferro entre o Governo – e o partido que o suporta, o PSD –, o PS e, ainda, o Chega, quem tem capacidade para aprovar e rejeitar leis, com uma geometria que tem variado, com os restantes partidos com assento parlamentar a surgirem apenas como figuras menores desta encenação. Tudo para ver quem melhor se posiciona para novas legislativas e, a existirem eleições, como o Presidente da República garante que acontecerá se não for aprovado um Orçamento, quem ficará com o ónus de voltarmos, de novo, às urnas.
Em caso de dúvida, como acontece, uma clarificação é sempre bem-vinda, mas o ónus pode ser partilhado por todos, pelo cansaço dos eleitores com a insistência na politiquice.