Para quem segue as discussões entre o PSOE e o Podemos em Espanha fica com saudades de uma política com dramatismo. Deste lado, António Costa e o “costismo” tem pernas para continuar mais uma legislatura de forma folgada, e pode inclusive não ter necessidade de uma geringonça como aquela com que viveu até agora. Como as coisas estão, até antecipamos que possa existir uma nova geringonça claramente menos intrusiva com o PAN e, porque não, com a Aliança.

Senão vejamos. Para o centro-direita os grandes “maléficos” têm sido o Bloco e o PCP e isso só beneficia Costa, que pode receber os votos do atual centro. Mas se acrescentarmos um PAN com 5% dos votos (e caminha para lá), Costa até se sente mais protegido no parlamento. Mais. O líder da Aliança, Pedro Santana Lopes, mantém uma visão muito apurada de como se faz política e lançou um desafio ao centro-direita no sentido de se unirem esforços.

Claro que não irá ter resposta, nomeadamente de Rui Rio, o que o deixa à vontade para virar a agulha num eventual acordo com Costa, até porque 2% foi o arranque da Aliança, mas se Santana canalizar os interesses da direita pode subir rapidamente. Estes são cenários especulativos que se baseiam nas mais recentes sondagens públicas, e que resultam exatamente da falta de dramatismo político num país que continua a ser assolado pelos incêndios, ainda que esteja com temperaturas amenas.

Vemos um ministro da tutela a lutar com autarcas mas que não diz como gastar menos em bombeiros e meios aéreos e mais em ordenamento do território e guardas florestais. Agrónomos e agricultores conseguem explicar como se faz. Porém, estas são decisões a ser tomadas para os próximos 40 anos e, mais uma vez, isso seria um aborrecimento e não haveria espetáculo.

Claro que os agricultores também não percebem que a história dos incêndios é um problema de economia. E, desculpem a expressão, dificilmente um “urbanóide” consegue entender que a mata está suja porque não compensa financeiramente. Tal como também é difícil para um proprietário reformado com 200 euros pagar 800 para limpar um hectare de floresta.

Para alguns políticos urbanos a ideia é nacionalizar mas a questão persiste: haveria dinheiro para limpar a mata? Fazê-lo num ano pode custar o equivalente a três OE para o setor, dizem entendidos. A história diz-nos que aconteceu algo semelhante no séc. XIX e a solução foi nomear um administrador geral das matas com formação na Alemanha, que acabou por se tornar padre…

No que respeita a matas, o destaque vai para a promulgação da Lei do Registo de Propriedade Rústica pelo Presidente da República, apesar de ainda não ter sido publicada em Diário da República. A história aqui começa com o registo gratuito dos prédios rústicos, que afinal não é assim tão gratuito como isso, porque o registo na Conservatória obriga à contratação de um topógrafo para fazer o desenho e levantamento da propriedade. O trabalho deveria ser feito pelo Estado através de levantamentos aerofotogramétricos e foi feito a sul do Tejo, mas a norte a despesa ficou por conta dos donos da terra. Uma habilidade.