Dividirei o artigo de hoje em três temas que ilustram bem a diferença entre populismo e compromisso. A linha de fronteira que é preciso traçar é o reconhecimento que invariavelmente acaba por acontecer do rigor do compromisso.

1. Helena Roseta, Presidente da Assembleia Municipal de Lisboa, terá conseguido para o órgão que preside um pacote benesses absolutamente incompreensível, insultuoso para o interesse comum e promotor do clientelismo partidário. O pressuroso Fernando Medina, a quem compete a admissibilidade de tal pacote, acarinhou-o, promoveu-o e fê-lo votar. Parece que foi aprovado por unanimidade, ou seja por todos os partidos presentes na vereação. Estou até hoje a tentar compreender o que pensaram os perpetradores de tal coisa. Que não se saberia? Que passaria de fininho, deixando mais um grupo de girls and boys satisfeitos? Que o resto do país é absolutamente parvo?

As Assembleias Municipais de todo o país funcionam com exemplar frugalidade, sendo exemplo da dedicação voluntária dos seus deputados ao serviço publico. Reúnem em dias de semana à noite ou aos sábados, para que os seus eleitos possam ter a vida profissional que lhes garante a independência necessária ao exercício do cargo, tem um staff reduzido e os meios básicos para o seu funcionamento. É assim no Porto, tendo Miguel Pereira Leite mais dimensão política que Roseta na gestão da cidade. É assim em Aveiro, em Braga… Porquê este absurdo despesismo lisboeta?

Populismo é prometer o que não se tenciona fazer, compromisso é cumprir a palavra dada. Como Assunção Cristas conseguiu um excelente resultado com base na promessa credível do cumprimento da palavra dada, espero que mostre aos portugueses o que a diferencia dos populistas, dos despesistas, dos amiguitas. O CDS é historicamente contra a promiscuidade entre os partidos e o aparelho da administração. É altura de o mostrar energicamente, em honra do compromisso.

2. Estou nos Estados Unidos. Gosto muitíssimo do povo americano. A cada vez que o afirmo, levo com uma chuva de críticas, de preconceito, de chauvinismo, que me leva a pensar fundar uma associação de defesa da imagem do povo americano. Uma das críticas recorrentes é a de que os americanos não sabem onde fica Portugal. Nunca conheci nenhum que não soubesse, mas os que nunca vieram aos EUA conhecem imensos. Preparem-se os críticos, Portugal está na boca dos americanos! Não há uma alma que não me fale do milagre português!

Hoje os americanos não só conhecem Portugal, como falam com interesse da historicidade do Porto, de Braga e Guimarães, do recorte cénico de Cascais e Sintra e da beleza de Lisboa. Curiosamente, para esta gente, o Algarve conta pouco, é um big resort, e disso há muito em muitos países. Interessa-lhes a gastronomia e a afabilidade do Porto, a magia do Douro, o castelo de Guimarães, o património de Braga, a costa de Cascais, o charme de Sintra, a vida de Lisboa, tudo com portugueses simpáticos e interessantes dentro.

Aliás, a essência da coisa vem da admiração dos americanos por quem vence as adversidades. A par de tudo isto, vem o conhecimento da profunda crise que atravessamos, os anos da troika, aqui conhecidos como a “IMF intervention”, e o modo heróico como os portugueses foram a luta, não renunciaram aos sacrifícios, resgataram o que era seu e deram um “kick in IMF’s ass” logo que puderam, recuperando soberania e independência. Da Madonna, ninguém me falou.

Confesso que me senti orgulhoso. Mais uma vez, a valorização do compromisso. Não tive obviamente coragem de lhes falar do Governo Costa e do que significa em relação a tudo isto.

3. Um destacado clérigo da Igreja protestante escocesa afirmou esta semana que rezava todos os dias a Deus para que o príncipe herdeiro viesse um dia a encontrar um belo rapaz, casasse com ele e fosse muitíssimo feliz.

A resposta da hierarquia da Igreja Anglicana foi rápida e dura. Primeiro, não faz parte das atribuições clericais, ou vocação, fazer votos ou orar quanto à orientação sexual dos membros da família real, que dirige a Igreja. Segundo, e tendo em vista a sucessão dinástica, orar pela homossexualidade do príncipe herdeiro seria contranatura. Terceiro, os clérigos da Igreja Anglicana devem abster-se de interferir na regulação da vida íntima dos seus súbditos.

O clérigo em questão, a lembrar um padre da Lixa ou do Vilar de Perdizes lá do sítio, transformou-se em militante da agenda gay. Faz-se fotografar com travestis, pin-ups e rapazinhos, numa atitude que em nada dignifica ou credibiliza a missão que pediu e lhe foi confiada. O clérigo escocês escolheu a via do populismo, as páginas dos tablóides, numa clara renúncia ao compromisso. Há mais como ele, lá como cá, como em todo o lado. São os que não resistem ao apelo do mundo, à popularidade vã, ao brilho baço das luzes pífias de uma agenda imediatista.

No mesmo Times, uma notícia bem mais pequena, numa página bem mais escondida, dava conta de uma grande sondagem feita aos britânicos sobre a sua relação com a Igreja Anglicana. Nos últimos três anos, a credibilidade da igreja anglicana caiu mais do que na altura dos escândalos de casos de pedofilia. O motivo principal é a descaracterização da igreja e a confusão quanto aos seus princípios. Dá que pensar, não dá?

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.