Um francês, Aymeric Caron, recomendou que nos deixássemos morder pelos mosquitos porque é apenas “uma mãe a tentar alimentar os seus futuros filhos”, pois precisam de proteína para os seus ovos. Este provável adepto do PAN, como francês que é, está um pouco “à coté de la plaque.”

Condescende que em África não, que a picada pode deixar-nos com malária, mas que em Paris como em qualquer outra cidade europeia, isto é como dar sangue. E diz-nos para seguirmos o exemplo de Albert Schweitzer, que se permite matar os mosquitos em África, mas que em França se deixa morder à vontade dos fregueses (mosquitos, claro). Quero lá saber! Se ele se for atirar aos leões no jardim zoológico para eles poderem comer carne fresca, eu não vou.

O homem, Caron, ao dizer uma coisa destas esquece alguns factos básicos. Em primeiro lugar, quando um mosquito me pica, sei lá se é uma mãe a fazer pelos filhos ou se é o pai a sugar-me. Em segundo lugar, não gosto que me chupem o sangue sem sequer me pedirem autorização. Gostava de saber se ele fazia o mesmo por um vampiro que, coitado, quando lhe morde o pescoço também só está a tentar levar a sua vida para frente. Portanto, os mosquitos que vão morder o senhor Caron e amigos e deixem o meu pescoço em paz.

Esta coisa de dar de comer, e se tivermos que olhar aos gostos do outros, pode até ser muito deprimente. Deixem-me a mim e ao meu sangue em paz. Por exemplo, morreu o mês passado na Austrália, na quinta de crocodilos Koorana, o crocodilo MJ, meses depois de ter perdido uma luta com outro crocodilo, o que o deixou em má forma.

John Lever, o proprietário da quinta, encontrou na barriga do crocodilo uma placa ortopédica e agora é bombardeado por perguntas de pessoas que perderam familiares que podem ter ido parar ao aparelho digestivo do bicho. Suponho que Caron diria que foi um ato nobre, que matou a fome a toda uma prole de répteis bonitos e esverdeados. A opinião do comido nunca vamos saber.

No início de abril, um caçador furtivo de rinocerontes foi morto por um elefante na África do Sul e devorado por leões. De acordo com a CNN, só sobraram o crânio e as calças. Imagino que o nosso Caron recomendaria ao elefante que dissesse em sua defesa que “era ele ou eu”. Um estudo publicado no “American Journal of Forensic Medicine & Pathology” em 1994 relata quatro casos em que cães e gatos comem os donos depois destes morrerem subitamente. Suponho que Caron diria “se hão de ir para os porcos…”.

Voltando ao tema de abertura, sim, sou mordido todos os anos, que me levam o sangue quase todo (fica só o suficiente para continuar a ser chupado) e não são nem mosquitos, nem vampiros, nem sanguessugas a sério, são os gajos dos impostos.