Talvez influenciada por uma das minhas séries preferidas, “Mad Men”, e pela sua descrição do dia a dia numa agência de publicidade em Nova Iorque nas décadas de 50/70, interessei-me pelo livro do autor Sam Delaney, “Mad Men & Bad Men: What Happened When British Politics Met Advertising”, que conta a história de como a política britânica fez o seu primeiro cruzamento com o mundo das agências de publicidade e comunicação, especialmente a partir da eleição que levou à vitória de Margaret Thatcher.

O autor do livro entrevistou algumas das figuras chave do universo publicitário que conduziram a campanha eleitoral dos Tories à época e que descrevem Thatcher como uma política com grande fé no poder de comunicar a sua visão de uma forma inovadora. Os Conservadores estavam empenhados em ganhar eleições e causar impacto através de uma nova comunicação mais agressiva, arrojada e direta.

O cartaz da agência Saatchi & Saatchi, que trabalhou com Thatcher nesse ano, em que o slogan “Labour isn’t working” acompanhava a imagem de uma longa fila de pessoas à porta de um centro de emprego, terá sido decisivo para o início de uma batalha agressiva de comunicação entre Conservadores e Trabalhistas em todas as futuras campanhas eleitorais.

Tendo estado envolvida, como candidata ou dirigente partidária, em todas as campanhas eleitorais portuguesas desde 2014, algumas histórias do livro soaram-me muito familiares. A esquerda tem sido mais resistente, delegando grande parte das decisões de comunicação nos próprios políticos, o que, pessoalmente, considero um erro crasso. Delaney conta que Thatcher raramente tomava as suas próprias decisões nesse campo e exigia que os seus colaboradores não a poupassem a críticas em relação à sua imagem ou discurso, mostrando-se recetiva a mudanças. Não é vulgar encontrar políticos que reconheçam que não basta a força das ideias ou dos discursos.

Esta crónica sobre o poder da comunicação vem também a propósito da sua importância na gestão da pandemia. Temos visto o nosso Governo a tropeçar na sua comunicação, ao optar por manter o modelo das conferências diárias da DGS, pautadas por uma linguagem técnica e confusa por parte dos responsáveis da Saúde e ministros. E temos ainda o tom paternalista do Presidente da República e o tom por vezes nervoso, por vezes contraditório, por vezes sem noção, do primeiro-ministro. O tempo não tem jogado a favor, com a chegada em força da segunda vaga, mas é agora ou nunca que importa reformular toda a comunicação e torná-la mais eficaz, direta e, sobretudo, profissional.

Nenhuma agência de comunicação me pagou para escrever esta crónica, mas reconheço a importância de recorrer a maior criatividade e eficiência no momento atual. Anúncios televisivos em horário nobre a ensinar como usar máscaras e o que se deve fazer, a desconstruir mitos ou falsas ideias. Bem como ajudar os ministros a criar discursos mais empáticos (Angela Merkel é um bom exemplo). Estamos todos desejosos que este pesadelo termine, mas, sem uma boa comunicação, as autoridades parecem sem rumo e sem foco. E o foco agora só pode ser um: ultrapassar a pandemia sem que esta faça implodir os nossos serviços de saúde e a economia. Para isso, uma boa comunicação pode ser um grande trunfo.