Nas eleições presidenciais russas um homem votou em Severobaykalsk, na República da Buriácia, disfarçado de urso castanho sem que ninguém tenha achado estranho – algumas pessoas assustaram-se com os seus rugidos e ele teve que votar fora da cabine de voto por não caber nela, mas isso foi tudo. Antes dele já uma rapariga tinha votado disfarçada de panda. Com isto ficamos a saber que pelo menos três ursos votaram nestas eleições, e um deles votou nele próprio.

O voto dos animais não é tão estranho como pode parecer. Os cães selvagens africanos (Lycaon pictus) espirram para tomar decisões de grupo – a frequência de espirros leva à decisão de caçar ou dormir, como numa autêntica votação. As suricatas (Suricata suricatta) devem a sua sobrevivência ao grupo, que quando se desloca escolhe a direção ou acelera quando três ou mais suricatas fazem uma “moving call” – três constitui assim o quórum de decisão. As abelhas decidem onde fazer uma nova colmeia pela dança das abelhas batedores – quando todos os batedores dançam a favor da mesma localização, é a altura de avançar. As formigas votam com os pés: constroem um novo formigueiro quando o número suficiente delas se concentra no mesmo sítio.

Também esta coisa do urso russo não é de estranhar. O urso aparece muitas vezes como símbolo da Rússia e foi até escolhido pelos russos para mascote dos Jogos Olímpicos de 1980. Mas, na verdade, o urso não é o símbolo da Rússia, pois na cota de armas aparece, sim, a águia de duas cabeças. O urso terá sido escolhido pelo Ocidente por ser um bully que vive no meio da floresta, o que cai como uma luva aos russos em geral e a Putin em particular, vendo a sua vida de antigo espião ou o seu atual retiro num gabinete do Kremlin.

Na verdade, o homem é alguém especial e que, segundo Baba Vanga, a vidente que previu Chernobyl, a queda do muro, o 11 de Setembro e o Brexit (conhecida como a Nostradamus das Balcãs), vai dominar o mundo. Em 2018 ela terá dito ao político e escritor búlgaro Volen Siderov: “All will thaw, as if ice, only one remain untouched – Vladimir’s glory, glory of Russia.”

O nosso Vladimir (o Putin, não o Santo) é de facto um urso, no sentido da força e determinação. Exemplos que são por vezes apontados são Magnitsky, Litvinenko, Perepilichnyy, Puncher, Glushkov e Skripal. Homem de amizades, infelizmente estas parecem ser localizadas no tempo – como nos casos de Pugachev, Gudkov, Kudrin e Prokhorov, entre outros. A conclusão parece ser que é melhor deixar o homem andar sozinho, pois para Putin, governar é coisa sem geringonças. Enquanto não for no mundo, não é mau.