Aproveitando a discussão que se está a ter em Portugal acerca da estratégia desenvolvimentista para o país no curto, médio e longo prazos – que o Governo impulsionou através do denominado “plano Costa Silva”, que visa ser um guião para o aproveitamento dos fundos comunitários extraordinários que vão acorrer a Portugal, para se responder aos desafios da pandemia, da sustentabilidade ambiental e do reposicionamento do país no ranking europeu e mundial – penso que se deve organizar essa estratégia à volta de uma lógica global: tornar Portugal um país de luxo.
Como se vive num mundo globalizado, em que a circulação de capital, empresas, informação e pessoas é cada vez mais fácil, Portugal precisa de usar as suas características endémicas e irreplicáveis como factor diferenciador e criador de valor.
Esta aposta no luxo não se confunde com o sector do luxo. O que quero dizer com Portugal tornar-se num país de luxo é passarmos a ser dos países com mais altos níveis de vida mundiais, isto é, com um custo de vida muito elevado, mas rendimentos correspondentes, como acontece noutros países de luxo como a Suíça ou o Luxemburgo.
Para que tal suceda, temos que ser um capturador de rendimentos internacionais que, depois, sejam distribuídos pelos nacionais. E isso consegue-se se explorarmos ao máximo os nossos recursos infungíveis. É que não há, no mundo, outro país pertencente à União Europeia, com o nosso clima, a nossa história, a nossa gastronomia, a nossa paz, a nossa estabilidade social e política, a nossa paisagem, a nossa hospitalidade, o nosso tamanho e a nossa costa, para além de termos uma legislação avançada do ponto de vista do humanismo.
Isto significa que Portugal é, já, um bom país para se viver, e pode ser ainda melhor se conseguirmos atrair esses recursos financeiros internacionais.
Para se pôr em prática tal estratégia, temos que vender Portugal como um dos melhores locais no mundo para se viver e visitar, combinando turismo com destino de reformados, local de tratamentos de saúde, local de estudo e de vida para jovens e empresas do sector digital.
A diversidade cultural, geográfica e paisagística que temos no nosso pequeno território (ilhas incluídas), para além de um posicionamento central na geografia do Ocidente (a meio caminho entre Nova Iorque e Moscovo), faz com que nos possamos posicionar como país singular no mundo.
Ao contrário do que temos feito no passado, em que apostamos nos nossos baixos custos de produção como factor de competitividade – o que significa condenarmo-nos a um baixo nível de vida – devemos explorar o que temos de inimitável, cobrando preços de monopolista.
Porém, para que não nos transformássemos naqueles países em que só os muito ricos estrangeiros vivem bem, teríamos que ter uma política de redistribuição dos rendimentos forte. Isso consegue-se impondo salários mínimos, ao nível dos países mais ricos, o que significa que todos os sectores dos serviços locais cobrarão preços elevados, que servirão para pagar os altos salários (se se garantir bons serviços de saúde, educação e segurança social aos nacionais, para além desses elevados salários mínimos, não me chocaria uma política de competitividade fiscal empresarial, embora essa possa ser pouco eficaz a médio prazo, por retaliação internacional).
O único risco inicial desta estratégia seria o não afluxo dos estrangeiros e dos seus rendimentos. Porém (e passada a pandemia), esse risco é baixo. As qualidades únicas do nosso território e do nosso povo, fazem com que sejamos um local perfeito para se estar. Tornemo-nos “senhorios” careiros e monopolistas do nosso país, absorvamos os rendimentos internacionais e apliquemo-los em urbanismo, saúde, educação e tecnologia e, facilmente, seremos o destino de luxo do mundo.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.