O país descobriu por estes dias, em choque, que um private equity chamado Lone Star está a fazer uma limpeza no Novo Banco, com a ajuda de um mecanismo de capital contingente assegurado pelo Fundo de Resolução, uma entidade pública financiada pelas contribuições dos bancos. Aparentemente, o Governo e os partidos da oposição não sabiam o que faz um investidor como o Lone Star, especializado em ativos problemáticos: reestrutura, aliena ativos ‘tóxicos’ a desconto e põe a casa a dar lucro, para mais tarde a vender com mais-valias. Mais fácil se torna se puder fazer isto alegando pressão do supervisor para limpar o balanço e tendo à disposição um cheque em branco no valor de 3,89 mil milhões.

Por isso, o que está a acontecer no banco, com a venda de carteiras de crédito e imóveis a desconto, só deve surpreender os menos atentos. Custa até a entender a indignação dos políticos, com as mais altas figuras do Estado à cabeça, sobretudo as que desenharam e sancionaram a solução atual. A qual, sendo o mal menor, está longe de ser inócua para os contribuintes e para os outros bancos, que são forçados a pagar a recuperação de um rival que, um dia, retribuirá a simpatia voltando à liça com renovado poder de fogo.

O triste facto é que não existem soluções fáceis para problemas deste calibre. Mas os Governos não tiveram a coragem de assumir que o BES nos custaria a todos largos milhares de milhões de euros, preferindo vender-nos sucessivas ilusões. Primeiro, o BES era “sólido”, depois os bancos eram “os acionistas do Fundo de Resolução” e, mais recentemente, o mecanismo dificilmente seria acionado pela Lone Star. Agora, prometem mais inquéritos e auditorias, para podermos finalmente “saber a verdade”, como disse Marcelo, sobre o banco que afinal é “mau”, como confessou António Costa. A verdade, sobre este assunto, parece chegar com delay.