Embora os líderes mundiais estejam ocupados com crises internas e geopolíticas, a crise climática não pode ser ignorada, já que cada fração de grau adicional de aquecimento aproxima o planeta de um colapso que ameaça vidas e economias, exacerbando também as consequências da destruição da natureza.

Na COP28, líderes e sociedade civil concordaram com passos decisivos: acelerar a transição para energias renováveis, duplicar a eficiência energética e estabelecer um novo Fundo para Perdas e Danos. Esses compromissos marcam avanços importantes, mas a implementação efetiva dependerá do progresso em dois pilares do Acordo de Paris: um novo objetivo financeiro para substituir os 100 mil milhões de dólares anuais após 2025, e Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) apropriadas, ou seja, que estejam alinhadas com a meta de limitar o aquecimento global a 1,5°C.

A COP29, que começou esta semana, é vista como uma oportunidade crucial para estabelecer compromissos claros e sustentáveis, para limitar o aquecimento a 1,5°C. Após décadas de conferências sem resultados suficientes, a urgência para reverter os danos climáticos é maior do que nunca.

O financiamento climático é um dos temas centrais da COP29. Segundo o relatório Global Stocktake, são necessários entre 5,8 e 5,9 biliões de dólares até 2030 para que  os países em desenvolvimento consigam cumprir as suas NDCs (i.e., os seus compromissos de redução de emissões em linha com o Acordo de Paris), além de investimentos anuais de 215 a 387 mil milhões para adaptação climática. Para alcançar emissões líquidas zero até 2050, projeta-se a necessidade de 4,3 biliões anuais em energias limpas, valor que deve aumentar para cinco biliões após 2030.

Estes valores reforçam, mais uma vez, a responsabilidade dos países ricos e grandes emissores não só na redução das suas emissões (que é urgente e muito necessária), mas também no apoio financeiro aos países em desenvolvimento, que não só não dispõem dos recursos financeiros para acompanhar esta transição como, e sobretudo, são os primeiros a sentir os fenómenos extremos climáticos nos seus territórios. A meta de 100 mil milhões de dólares em apoio anual, estabelecida na COP15, ainda não foi inteiramente cumprida, reforçando a necessidade dos países alcançarem compromissos financeiros concretizáveis.

Outro ponto central da COP29 é a revisão das NDCs para alinhar os compromissos nacionais ao objetivo de limitar o aquecimento global. Embora muitos países já tenham feito atualizações, várias NDCs ainda permitem aumentos de temperatura que ameaçam as pessoas e ecossistemas. Espera-se que a COP29 exija metas revistas e planos de implementação realistas, incluindo a transição justa dos combustíveis fósseis para energias limpas, de forma a garantir inclusão e apoio aos países em desenvolvimento que dependem economicamente desses combustíveis.

Não podemos ignorar todo o conhecimento científico e trabalho político que tem sido feito nas últimas décadas para acelerar as metas climáticas e a coordenação com fóruns globais, como o G20. O suporte de instituições financeiras internacionais é também essencial para financiar e acelerar este cumprimento de metas. A COP29 precisa de ir além dos comuns compromissos simbólicos e trazer decisões concretas e verificáveis que garantam um futuro sustentável e limitem o aquecimento global antes que os danos se tornem irreversíveis.