A pujança do imobiliário é hoje inquestionável. A concessão de crédito para compra de casa está no valor mais alto desde 2010, tendo atingido quase 10 mil milhões de euros no ano passado.

O valor médio da avaliação bancária bateu um novo recorde no início de 2019, alcançando, em janeiro último, o valor de 1.226 euros por metro quadrado. Trata-se de um aumento de 0,5% face a dezembro e de 6,3% em termos homólogos. A avaliação de imóveis está a subir há 22 meses. Apesar do “travão” acionado pelo Banco de Portugal, a maioria dos indicadores relacionados com o setor do imobiliário está em alta.

A estes dados somam-se os valores do investimento estrangeiro no sector – em julho do ano passado, o peso relativo do investimento estrangeiro no imobiliário em Portugal subiu para os 82%. Mas, apesar deste boom e de todo o capital investido, o crescimento da economia portuguesa continua dececionante. De acordo com as últimas estatísticas do Eurostat, o PIB per capita em Portugal recuou para 76,6% da média dos países da União Europeia, em termos de paridade do poder de compra.

Somos o quarto país mais pobre da União, ficando apenas à frente da Eslováquia, Letónia e Grécia. A economia está a crescer, mas com demasiada lentidão, quando comparamos o nosso ritmo com o da Irlanda ou da Polónia, por exemplo.

Porque estaremos nesta situação? Além das deficiências estruturais sobejamente conhecidas – fraca qualificação da mão de obra e burocracia estatal asfixiante, por exemplo – não temos conseguido atrair investimento produtivo capaz de impulsionar as exportações, mas apenas capital para investir no imobiliário.

É altura de entendermos o sentido e o alcance do investimento direto estrangeiro e de percebermos qual o contexto mais adequado para o atrair com eficácia e eficiência. Reduzir de forma planeada a carga fiscal, eliminar custos anacrónicos do contexto (licenciamento industrial, processos judiciais para execução de contratos, entre outros) e flexibilizar a legislação laboral poderão traduzir-se em medidas de política capazes de atrair o investimento que tanta falta nos faz para crescermos mais depressa que os outros e neutralizarmos rapidamente uma das nossas maiores vulnerabilidades que é, sem dúvida alguma, o peso da dívida na riqueza global gerada no país.

No mais recente relatório da OCDE sobre Portugal pode ler-se que “o rácio da dívida pública tem vindo a diminuir, mas o elevado peso da dívida (121,1% em percentagem do PIB) continua a limitar a capacidade do Estado para fazer face a futuros choques económicos”.

Devemos ainda acrescentar que o peso esmagador do serviço da dívida também anula a margem de manobra do Estado para poder estimular o crescimento económico, comparativamente ao que sucede noutros países da nossa zona económica. Quando despertaremos para esta realidade?