Fazer Porto-Madrid de comboio Alta Velocidade em três horas via Trás-os-Montes pode vir a ser uma realidade no futuro.
O Governo assina esta quarta-feira um acordo de colaboração para a elaboração dos estudos de viabilidade da Linha de Alta-Velocidade de Trás-os-Montes (LAVTM). Na cerimónia em Bragança vai estar presente o ministro das Infraestruturas Miguel Pinto Luz e o Governo regional da comunidade autónoma de Castilha e Leão. O acordo tripartido será assinado entre as Infraestruturas de Portugal, CCDR Norte e Comunidade Intermunicipal das Terras de Trás-os-Montes (CIM-TTM).
O que é que está em causa nesta linha?
Um estudo realizado pela Associação Vale d’Ouro (AVD) em 2023, que defende a realização desta linha, estima que os custos poderão atingir 4 mil milhões de euros, com 300 milhões relativos ao troço a construir em Espanha.
A AVD estimou que a LAVTM pode ter um impacto de 4,5 mil milhões de euros na exportação de bens, gerando 41 mil milhões de euros de riqueza.
A ideia seria retomar a ligação entre o Porto e Vila Real e Bragança e depois entrar em Espanha para fazer a ligação à Alta Velocidade espanhola (Madrid-Galiza) que passa a menos de 20 km da rede portuguesa, segundo uma Resolução do Conselho de Ministros aprovada este ano.
Entre Porto Campanhã e Vila Real seria realizado um serviço Intercidades com 4 paragens num tempo estimado de 1h05m. Entre o Porto e Bragança, o trajeto teria 8 paragens no total de 2 horas.
Desde 2009 (Vila Real) e 1992 (Bragança) que estas cidades deixaram de ser servidas. Até então, eram servidas por duas linhas de via estreita: as linhas do Corgo e do Tua que permitiam a ligação ao Porto via Linha do Douro.
Em abri, o Conselho de Ministros concluiu que a “reabertura destas linhas não se afigura como uma opção viável para o restabelecimento da ligação ferroviária às duas capitais de distrito de Trás-os-Montes, uma vez que os tempos de viagem na ligação ao Porto, a sua Área Metropolitana de referência, seriam sempre demasiado longos para poder captar uma quota modal significativa das deslocações”.
E defende que “apenas com a construção de uma nova linha de caminho-de-ferro se poderá criar uma solução de acessibilidade eficaz”. A ideia será construir uma nova linha com uma velocidade de projeto de 160 km/h, podendo atingir os 200 km/h em alguns troços, onde não implicar um sobrecusto significativo.
O acesso à cidade invicta poderia ser feito através da Linha do Douro, com uma ligação perto do apeadeiro de Oliveira, mas “seria necessário assegurar que esta linha tem capacidade suficiente para acomodar o tráfego adicional”.
Uma alternativa seria ligar a nova Linha de Trás-os-Montes à Linha do Minho e à LAV Porto-Vigo nas proximidades do aeroporto Sá Carneiro através de um traçado inteiramente novo.
“A articulação com esta nova linha deve, portanto, informar as decisões a ser tomadas sobre futuros investimentos na Linha do Douro ou na construção da Linha do Vale do Sousa, estudando-se a melhor configuração para a rede ferroviária no acesso ao Porto a partir de Este”, segundo a Resolução do Conselho de Ministros.
Além do transporte de passageiros, esta linha “pode ser pensada também” para o tráfego de mercadorias, assumindo-se como um “futuro novo corredor internacional que assegure a o crescimento do tráfego para além da capacidade providenciada pela Linha da Beira Alta e pela Linha do Minho”.
No seu estudo, a Associação Vale d’Ouro destaca: “A linha de Alta Velocidade (AV) Porto-Zamora-(Madrid), via Trás-os-Montes (…) permite ligar o Aeroporto Francisco Sá Carneiro (AFSC), no Porto, à linha de Alta Velocidade Madrid/Galiza, passando por Paços de Ferreira, Amarante, Vila Real, Alijó/Murça, Mirandela, Podence/Macedo de Cavaleiros, Bragança e Terra de Miranda”.
“Esta proposta insere-se numa visão de médio/longo prazo para toda a região, a qual parte do pressuposto da prévia concretização da visão de curto prazo, ou seja os projetos previstos no Ferrovia
2020 e no PNI 2030, que contemplam a linha do Vale do Sousa e a modernização integral, incluindo
eletrificação da linha do Douro até Barca D’Alva, essencial para a mobilidade regional e da atividade
turística ao longo do vale do Douro, e da respetiva reabertura para Salamanca, o que permitirá abrir o
Douro Vinhateiro a uma nova dimensão económica, e criar condições para o aparecimento dos earliest
consumers ao nível do transporte de mercadorias, alavancando os fluxos associados ao minério de
Moncorvo, e ao reforço do hinterland do Porto de Leixões”, defende a AVD.
A linha de AV Porto-Zamora-(Madrid) pretende ser uma “via de comunicação estruturante que, não
só potenciará a coesão territorial e socioeconómica da região, como também permitirá aproximar a
Região Norte e o País, da Europa Ocidental, numa estratégia alinhada e enquadrada nas políticas de
neutralidade carbónica definidas pela Comunidade Europeia, as quais atribuem ao comboio o papel de
espinha dorsal de todo o sistema de transportes”, de acordo com a associação.
O Governo determinou este ano à IP que “estudasse o desenvolvimento da Linha de Trás-os-Montes,
considerando a valência da Alta Velocidade, com a perspetiva de ligação entre Porto e Madrid em
cerca de 3h. De facto, a rede de Alta Velocidade espanhola passa a menos de 20km da rede
portuguesa, o que permite esta avaliação com relativa segurança de continuidade do lado espanhol”, segundo a Resolução de Conselho de Ministros de 16 de abril que também sublinha que este acordo foi celebrado “diretamente” entre o ministro Miguel Pinto Luz e o seu homólogo espanhol Óscar Puente Santiago na Cimeira Portugal-Espanha em outubro de 2024.
Linha de Trás-os-Montes – Plano Ferroviário Nacional (PFN)
Proposta LAVTM – Associação Vale d’Ouro
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