O aumento da produtividade através da inovação é sempre mais saudável e tem impacto mais duradouro do que se for alcançado através da redução de salários. Há uma vasta literatura teórica e empírica que confirma isto, apesar de haver ainda quem defenda o aumento de competitividade atuando sobre o “preço do fator trabalho”.

Os dados de longo prazo existentes mostram que Portugal tem conseguido convergir com a média da União Europeia (UE) no que respeita aos principais indicadores de inovação (com exceção do período 2011-2015), posicionando o nosso país como moderadamente inovador na UE. A evidência mostra que tal convergência se deve, em grande parte, à ação e esforço das políticas públicas (não só ao nível do financiamento, mas também à capacitação e diversificação dos atores do SNI – Sistema Nacional de Inovação), mas também ao crescente número de empresas que desenvolvem atividades de inovação (de produto, serviços, processo, organização, marketing) e de investigação e desenvolvimento.

E são cada vez mais as empresas que desenvolvem essas atividades em colaboração com as entidades de I&D e do ensino superior, quer nacionais quer de outros países, mas também com outras empresas, mesmo concorrentes. A inovação e I&D colaborativa é uma realidade crescente e cada vez mais adotada, confirmada, por exemplo, na forte procura que têm tido os instrumentos financeiros do Portugal 2020 que apoiam os projetos colaborativos, mas também a forte adesão das entidades nacionais ao Horizonte 2020. Apesar de representarem uma minoria no universo das mais de 300.000 empresas existentes em Portugal, são cada vez em maior número e mais qualificadas, tendo muitas delas os mercados internacionais como principais clientes (principalmente as start-ups).

Para a próxima década, dois dos desafios que Portugal terá de superar para integrar o “pelotão da frente” dos países europeus mais inovadores passam por: i) aumentar o número de empresas (e de outras entidades) em projetos de inovação colaborativa e em redes de inovação, e; ii) difundir os resultados dessas inovações e das atividades de I&D pela sociedade e pelos atores do SNI. Estes desafios podem contribuir para posicionar Portugal como um país com as condições ideais para o desenvolvimento de plataformas para a inovação aberta.

No primeiro caso, será essencial o reforço dos instrumentos de criação de novas empresas de base tecnológica (continuando o apoio ao empreendedorismo qualificado e a atração de capital de risco internacional), mas também a requalificação das empresas já existentes, através da digitalização, da formação dos seus dirigentes e da sua participação em projetos internacionais de I&D e inovação. Neste campo, mecanismos como os clusters, as infraestruturas tecnológicas ou os recém-criados Laboratórios Colaborativos poderão desempenhar um papel-chave na transformação empresarial e atualização tecnológica, dado a sua importante atividade de interface entre a academia e as empresas, de capacitação e de resolução de problemas concretos. No segundo caso, a difusão da inovação terá de estar ancorada na divulgação internacional das capacidades existentes no nosso país em termos de I&D e de inovação (e, com isso, atrair novos investimentos e “vender” à escala global os nossos serviços especializados), mas também numa estratégia de valorização económica e social das soluções tecnológicas, produtos e serviços por cá desenvolvidos.

O reforço em 25% das perspetivas financeiras para o 9º Programa-Quadro de I&D e Inovação da UE (que sucederá ao atual Horizonte 2020) é um bom sinal, com cerca de 100 mil milhões de euros disponíveis (a partir de 2020) para projetos colaborativos, redes de inovação e iniciativas de inovação aberta à escala europeia. No mesmo sentido se está a desenhar o próximo ciclo de fundos estruturais em Portugal, onde a competitividade através da inovação será um dos pilares.Será um desafio interessante, passar da ambição de ser um “startup country” para um “open innovation country”.