Há momentos em que uma reunião de líderes é apenas um ritual, um aperto de mãos para a fotografia e um punhado de promessas que se dissolvem antes mesmo de a tinta secar nos comunicados oficiais. E há momentos em que uma cimeira pode ser o início de algo irreversível, um sopro de mudança, uma correção de rota. O que será a XIV Cimeira Luso-Brasileira, marcada para os dias 19 e 20 de fevereiro, em Brasília? Um encontro carregado de simbolismo, ou um daqueles eventos onde se assina o futuro, mas ninguém se lembra de o cumprir?
Esta cimeira promete tratar de tudo: economia, ciência, tecnologia, cultura e os desafios sociais que atravessam o Atlântico como um eco – racismo, xenofobia, violência. Há cerca de 20 acordos em jogo. Alguns podem mudar o curso da relação entre os dois países, outros podem apenas encher pastas burocráticas. A diferença entre um encontro histórico e uma mera formalidade está no que acontecerá depois. E aí reside o problema.
Se a cimeira quiser ser mais do que um ato protocolar, terá de começar pelo óbvio: compromissos claros e prazos definidos. Um acordo sem um cronograma de execução é um exercício de retórica. Um pacto sem fiscalização é uma promessa para ser esquecida.
Além disso, esta cimeira só terá impacto real se trouxer para a mesa a sociedade civil, os empresários, os artistas, os estudantes e todos aqueles que constroem o dia a dia da relação entre os dois países. Se for um encontro restrito a políticos e diplomatas, longe da rua, longe dos problemas concretos e das soluções possíveis, será apenas mais uma data para os livros de história, sem efeito real no cotidiano de portugueses e brasileiros.
E, claro, há sempre o risco do fracasso. Um fracasso discreto, aquele que passa despercebido porque os discursos são hábeis o suficiente para encobri-lo. Ele ocorre quando os acordos são vagos, quando o entusiasmo inicial não se traduz em ações concretas, quando as vontades não se transformam em políticas públicas e mudanças estruturais. Ou, pior, quando as grandes questões – como o combate à desigualdade e o papel de Portugal e Brasil no mundo – são ignoradas em favor de consensos mornos e inofensivos.
A cimeira pode ser um momento decisivo para redefinir o futuro da relação luso-brasileira. Ou pode ser apenas mais um evento que ocupa manchetes por um dia e desaparece sem deixar rastro. No final, não será o número de acordos assinados que dirá se foi um sucesso. Será o impacto que eles terão – ou não – na vida das pessoas.