De mal a pior. Portugal tem, em 2025, a maior descida no Índice de Qualidade das Elites (EQx2025) desde a criação deste indicador em 2020. O país cai cinco lugares, face ao ano passado, e é 30.º entre 151 países, igualando os seus piores registos de 2021 e 2023.
O índice é produzido pela Universidade de St. Gallen, na Suíça, em parceria com instituições congéneres de outros países. Em Portugal é a Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEP). A Escola liderada por Óscar Afonso, confirma a tendência de deterioração das elites que se acentua desde a pré-pandemia e reflete “perdas significativas na capacidade de geração de valor económico superiores aos ganhos no valor político e, em particular, no poder político e económico, ainda que este último tenha sido bastante penalizado nesta edição”.
O desempenho português no EQx2025 explica-se sobretudo pela evolução negativa no sub-índice de poder, em especial no que respeita ao poder económico das elites. De salientar um recuo expressivo no pilar “destruição criativa” – que avalia a renovação dinâmica do tecido económico –, devido à introdução de dois novos indicadores relativos ao investimento privado em inteligência artificial (IA), uma área em que Portugal surge mal colocado. Tal revela dificuldades na captação de investimento em tecnologias cruciais para a inovação.
Também o sub-índice de valor contribuiu de forma significativa para a queda geral, representando cerca de 49% da deterioração global. Este resultado, explica a FEP, traduz, sobretudo, a perda de valor económico, com destaque para um conjunto de fragilidades estruturais persistentes, nomeadamente: fraco crescimento da produtividade laboral, elevada taxa de desemprego jovem, fuga de talento, reduzida participação na força de trabalho e dificuldades no acesso à habitação.
Embora as componentes de poder e valor político tenham tido pouca influência na descida global (a um nível agregado), verificaram-se movimentos relevantes nos seus indicadores, uns positivos e outros negativos, que acabaram por se compensar. No domínio do poder político, os efeitos negativos da degradação de indicadores ligados à corrupção, desigualdade de rendimento, liberdade académica e complexidade regulatória foram compensados, nos respetivos pilares, por melhorias na liberdade de imprensa, empoderamento feminino, distribuição da riqueza, qualidade da regulação e direitos humanos.
No domínio do valor político, destaca-se a evolução negativa nos indicadores de serviços públicos online, taxa de mortalidade por abuso de substâncias e eficácia da cobrança de impostos, bem como a manutenção de uma elevada taxa de IRC (continuação na 114ª posição), que são motivo para preocupação. No entanto, verificaram-se progressos em indicadores como o rácio da dívida pública – com Portugal a subir da 137.ª para a 63.ª posição – e o desempenho ambiental.
Para a FEP, a conclusão é clara: “A tendência de redução da qualidade das elites – ligada a fragilidades estruturais internas que determinam um modelo económico pouco competitivo – dificulta uma resposta eficaz aos desafios globais cada vez mais complexos”.
O EQx baseia-se na teoria da elite do desenvolvimento económico, em que as elites são definidas como os modelos empresariais dominantes na economia política das nações. O índice, principal ranking global de economia política, avalia se as elites de cada país criam valor líquido para a sociedade, significando que há mais para distribuir, ou o extraem em benefício próprio, em detrimento da população.
A edição de 2025 analisou 151 países, tendo em consideração 149 indicadores agrupados em quatro grandes dimensões: poder económico, poder político, valor económico e valor político.
O Índice de Qualidade das Elites 2025 é liderado por Singapura, figurando em segundo lugar os Estados Unidos, que protagonizam a maior subida desta edição, o que é explicado pelo desempenho pela IA. A Suíça desce para a 3.º posição e é um dos três países europeus no Top 10. Os outros dois são o Reino Unido e a Alemanha. Nos primeiros dez, destaque ainda para Israel e os Emirados Árabes Unidos. A China, devido ao rápido avanço na IA, sobe para o 19.º lugar, o que é significativo, dado que se trata de um pais de rendimento intermédio. De realçar ainda a subida da Índia, para o lugar 60.º, e o recuo do Brasil para 72.º, a refletir a crescente reconfiguração global na forma como as elites criam — ou extraem — valor nas respetivas sociedades.
Os editores do EQx na Universidade de St. Gallen, Tomas Casas e Guido Cozzi, sublinham que a qualidade das elites é um motor crucial do desenvolvimento económico, pois molda tanto os sistemas inclusivos como os extrativos. O índice oferece uma perspetiva única sobre a criação de valor sustentável de um país e o seu potencial crescimento a longo prazo.
O Jornal Económico publicou recentemente as conclusões de um estudo do ISCTE, segundo o qual a elite económica portuguesa é masculina, urbana e pouco rica e o seu poder depende mais do contexto institucional do que das dinâmicas globais de capital.
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