Nos últimos 10 anos, cerca de 1,5 milhões de hectares de floresta, mato e áreas agrícolas foram devorados pelas chamas. Mais de 190 mil incêndios rurais destruíram de forma impiedosa vastas zonas de floresta, levando consigo milhares de vidas humanas e não-humanas. Quando a história se repete seria expectável que aprendêssemos. Mas será de facto assim?

Entre 2000 e 2016, o custo dos incêndios rurais no nosso país ascendeu a mais de 6.126 milhões de euros, mais do que o custo da resolução do BES em empréstimos do Estado. À luz dos trabalhos preparatórios da Estratégia Nacional para as Florestas, os custos e prejuízos associados aos incêndios representam em média uma externalidade negativa na ordem dos 380 milhões de euros, ou seja,  uma perda anual de cerca de 30% da riqueza média produzida pelas florestas em cada ano.

Mas os custos dos incêndios, apesar de compreenderem as componentes de prevenção, supressão, perdas de bens e serviços e recuperação de áreas ardidas, deixam de fora das contas impactos sociais e ambientais a que não se pode pôr um preço: a morte de centenas de pessoas, entre civis e operacionais combatentes, a perda de um número incalculável de animais e a destruição de um vasto património natural.

Em Portugal, os espaços florestais ocupam 69,4% do território continental. Segundo o mais recente inventário, na nossa floresta os pinhais são a segunda formação florestal, com uma área próxima de um milhão de hectares. Os eucaliptais, que ocupam 845 mil hectares (26%), têm aumentado sistematicamente ao longo dos últimos 50 anos. A par do abandono de terras, tudo isto contribui grandemente para o aumento da vulnerabilidade do nosso território aos incêndios, para mais num contexto de alterações climáticas.

O relatório ibérico da WWF sobre incêndios florestais aponta Portugal como sendo o país europeu mais afetado por incêndios (o quarto a nível mundial), sendo também o país com maior taxa de ocorrências por área e onde os incêndios foram de maior dimensão.

Seria, pois, de esperar uma viragem no investimento e composição das espécies florestais, pelo menos após os grandes fogos florestais dos últimos anos, como os de 2017, altura em que os especialistas apontaram as extensas plantações de eucaliptos como um dos principais fatores para a propagação de incêndios. Contudo, no Orçamento do Estado para 2021 perdeu-se mais uma oportunidade com a rejeição de uma proposta que visava precisamente reverter os apoios à plantação de eucaliptos. No âmbito do Programa de Desenvolvimento Rural pretendia-se, em contrapartida, garantir a majoração das medidas de incentivo à plantação ou replantação de árvores autóctones.

O Estado deve valorizar a reconversão das monoculturas e a plantação de espécies autóctones como o sobreiro, o carvalho, castanheiro, entre outras folhosas nativas, deixando de beneficiar a plantação de monoculturas de eucalipto e pinheiro bravo. O preço de não o fazer é continuarmos de braços cruzados a assistir a Portugal a arder. Portugal chama, e clama, por uma nova estratégia e política florestais. Resta saber quando se fará ouvir.