Lisboa prepara-se para receber o Diving Talks, um evento internacional que aborda o sector do mergulho e o turismo que este engloba, trazendo ainda uma exposição fotográfica com nomes galardoados.
O Jornal Económico falou com Arlindo Serrão, fundador and general manager Portugal Dive e organizador da Diving Talks, sobre o impacto do mergulho no sector do turismo nacional.
O que nos pode contar na Diving Talks?
Este ano temos em Lisboa, durante três dias, pessoas absolutamente extraordinárias e brilhantes.
O painel de speakers são pessoas que estão a fazer coisas por este mundo fora, que são aquelas que vemos nas séries da Netflix e nos documentários do canal NatGeo. Efetivamente, as pessoas que proporcionam esses momentos, são os que vêm cá e são os speakers do Diving Talks.
Mas este não é um evento de mergulho. É relacionado com o meio subaquático. O mergulhador é o denominador comum, um ator fundamental para ver o que acontece neste mundo.
Nos nossos painéis estão a explorar os lugares mais recônditos, mais inexpugnáveis e mais inexplorados do planeta, que, como sabe, são aqueles que estão debaixo de água.
Até porque o oceano ocupa grande parte do planeta.
Por isso é que as pessoas dizem na brincadeira que é o planeta Água, em vez de Terra.
Dizemos que Portugal tem um domínio marítimo que é desproporcional face ao território por causa da localização da Madeira e Açores no meio do Atlântico e temos uma abrangência marítima enorme.
Falamos de desproporcional em termos de superfície. Não estou a falar só de riqueza em termos económicos mas também aquela que existe no fundo do mar e que nos está entregue para a guardarmos, preservarmos, explorarmos e estudarmos. É um património que temos e do qual poderíamos tirar muito mais.
Não sendo a Diving Talks só sobre mergulho, o que englobam estas conversas?
Temos uma pluralidade de focos de interesse. Refiro, por exemplo, a Becky Kagan Schott que vem a Portugal falar das expedições ao Ártico e à Antártida.
É curioso que quando pensamos em oceanos, pensamos em sustentabilidade e preocupação com os recursos naturais e o que temos de fazer para os preservar, normalmente pensamos pela negativa. Isto é, pensamos no plástico e poluição. Isso são temas pertinentes mas não é só isso.
A Becky mostra-nos expedições e mergulhos interessantíssimos porque são feitas ao lado de icebergs e grutas de gelo. Ela já ganhou quatro Emmys por causa das fotografias e dos trabalhos videográfico que tem feito e está representada na exposição de fotografia subaquática patente do Pavilhão das Galeotas.
E além da Becky?
Vão estar presentes os dois projetos mais pioneiros e mais inovadores do mundo em termos de exploração subaquática. Do ponto de vista científico, que são o projeto Deep e o projeto Proteus.
O projeto Deep é um projeto que foi apresentado ao mundo há coisa de um mês. É uma empresa que tem sede no Reino Unido e que está a desenvolver habitats subaquáticos. Imagine tornar a exploração do oceano tão acessível como a exploração espacial. Eles idealizaram e que estão a promover, a construir, assim como todos os meios submarinos que vão ter de existir para as pessoas poderem ser transportadas e para os trabalhos científicos no fundo do mar serem realizados.
Tudo isto vai ser feito para que as pessoas possam ir para o fundo do mar e ficar lá a habitar como se tratasse da International Space Station. Estes habitats que estão a ser desenvolvidos pela Deep são muitas vezes comparados à International Space Station do fundo do mar.
Temos ainda o projeto Proteus que já iniciou. Este está muito mais avançado e vão começar agora a construir o primeiro habitat subaquático ao largo do México. Esta infraestrutura vai permitir que os cientistas fiquem no fundo do mar a realizar as suas experiências.
Só têm speakers estrangeiros?
Também temos speakers portugueses com histórias muito interessantes.
Por exemplo, temos cá o João Correia da Flying Sharks, que é um orador incrível e que vai falar de coisas tão exóticas, como, por exemplo, o transporte de peixes de um ponto mundo para outro.
O João Correia esteve envolvido no surgimento do nosso Oceanário e no transporte das criaturas marinhas para Portugal.
Temos ainda uma coleção de fotografias do Nuno Sá, que é um dos mais premiados fotógrafos e videógrafos portugueses. Vai fazer uma palestra muito interessante sobre o tubarão-baleia, que é o maior peixe que habita os oceanos e, portanto, vai ser também uma apresentação extraordinária.
Depois de Troia, Lisboa. Onde vai decorrer esta conferência?
Vamos estar no Museu da Marinha e a exposição é no Pavilhão das Galeotas. Aqui temos de agradecer à Marinha Portuguesa, que foi extraordinária e inexcedível no apoio.
Portugal é um destino interessante para a prática do mergulho? Em que posição se encontra Portugal a nível europeu?
Portugal compara favoravelmente com aqueles que são considerados hoje os melhores destinos de mergulho do mundo.
Atualmente, o arquipélago das Berlengas é o melhor spot de mergulho da Europa continental. Digo isto sem qualquer dificuldade e sem qualquer problema. Tem condições únicas para a prática do mergulho. Tem uma riqueza submarina absolutamente extraordinária, quer do ponto de vista da fauna que ali existe, quer do ponto de vista da flora que ali existe.
Nós temos de perceber que quando estamos a falar de turismo de mergulho, o turista mergulhador que vem a Portugal gosta de mergulhar, mas também quer conhecer a cultura, quer conhecer a gastronomia.
Em termos de sustentabilidade. Portugal está num bom caminho?
Portugal está num bom caminho, com certeza. Nas Selvagens criámos a maior reserva marinha da Europa.
Este é apenas um exemplo de como estas iniciativas são fundamentais para a preservação dos oceanos, dos recursos naturais e para a sustentabilidade dos recursos naturais.
Estamos obviamente no bom caminho porque as pessoas estão alertadas para isso e para a necessidade de contribuírem. Cada um de nós deve contribuir efetivamente para essa preservação dos recursos naturais.
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