As dificuldades que os efeitos da pandemia criaram à sociedade e economia portuguesa, nomeadamente no que se refere ao emprego, à retribuição salarial e precaridade laboral, obrigaram a uma adaptação rápida à nova realidade. Muitos negócios foram reinventados e outros surgiram, criando inovação e valor em nichos que até agora pouco ou nada eram utilizados.

As medidas de contenção impostas, que levaram a fortes limitações do contacto direto da população com as instituições, fizeram disparar por reação muitos negócios online e com recurso à internet. Na verdade, a resposta dos nossos agentes económicos foi muito rápida: só em abril, os registos online aumentaram 67%, com os negócios nacionais a sentirem a urgência de estar presentes no meio digital bem como novas empresas ou estruturas mais pequenas, que chegaram agora à internet.

Se antes da Covid-19 muitas empresas ponderavam ainda o momento de dar o passo para o digital, a pandemia empurrou-as definitivamente para este universo, acelerando todo o processo com os novos registos a atingir números nunca antes vistos. Nunca houve tantas empresas portuguesas na internet, porque a maioria entendeu que esta seria a única forma de manter alguma atividade no período do confinamento, divulgando os seus produtos e projetos.

As vendas e serviços na internet dispararam abruptamente, mas vieram para ficar, atingindo um número histórico nos últimos meses: mais de 10 mil novas moradas digitais por cada mês em média que passou no último quadrimestre, e nem as férias ou o verão abrandou este crescimento exponencial, que fez disparar o crescimento do domínio PT para mais 25%.

Muitos destes negócios online, que chegaram agora à internet, são novos e pequenos. São cerca de metade das novas empresas e pertencem sobretudo à restauração, à área dos serviços domésticos, aos ginásios e vendas de serviços e comércio digital, mas também a áreas essenciais que visam mitigar os impactos do vírus pandémico, como projetos de solidariedade social, saúde, higiene e terapias ocupacionais e de tempos livres.

Não foi só a necessidade, que fez disparar este fenómeno digital, mas também por baixo custo (basta um investimento de 10 euros por ano para o registo do domínio .pt) e também por ser um processo muito rápido, fácil e funcional, para conseguir ter uma porta aberta no online. Na verdade, os portugueses descobriram o que já sabiam mas não praticavam, o ser possível fazer (quase) tudo num teclado, sem sair de casa, e esta nova tendência transversal às gerações veio, sem dúvida, para ficar.

Todavia, é preciso estar atento aos perigos da sociedade digital em que vivemos. Temos de conseguir compreender que, neste mundo online, a privacidade e o direito dos consumidores não são valores antiquados que travam a inovação. Encontram-se ao nosso serviço e não se servem de nós. E esta aceleração digital terá sido e será benéfica? O tempo o dirá, mas para já a adaptação de várias gerações ao seu uso e o quebrar do tabu que a net se resume à diversão e não ao negócio e rendimento é demasiado positivo para ser subestimado.