É conhecida a expressão, associada ao designado efeito borboleta, segundo a qual o espirro de um governante pode provocar uma tempestade nos mercados. E se isso é verdade, ainda mais preocupante se torna a constipação quando associada ao presidente do país mais poderoso do mundo.

Em notícia recente deste mesmo jornal, foi divulgado o potencial efeito negativo que pode ter para as nossas exportações uma lista de 317 produtos que poderão vir a ser alvo de um aumento das tarifas associadas, atingindo um valor muito próximo dos dez mil milhões de euros. Entre esses produtos, encontram-se o vinho, têxteis, vestuário e bens alimentares como o queijo, a fruta ou o azeite. Para que se tenha uma ideia, e de acordo com os números também divulgados na notícia, Portugal vendeu um total de 2.878 milhões de euros aos Estados Unidos em 2018, mais 1,2% face a 2017, sendo o vinho o sexto produto mais vendido, atingindo os 80,9 milhões de euros, antecedido pelas roupas de cama, mesa, toucador ou cozinha, e o quinto produto mais exportado para os EUA, com as vendas a alcançarem os 92,6 milhões. No total e por sector, as matérias têxteis atingiram os 208 milhões de euros, os produtos alimentares 123 milhões, o vestuário 114,5 milhões e os produtos agrícolas 46,3 milhões.

Citados os números, importa perceber que nós, portugueses, seremos neste processo apenas uma vítima colateral da guerra comercial iniciada pelo governo de Donald Trump contra a União Europeia, cujo cerne é a batalha entre a norte-americana Boeing e a francesa Airbus, com a primeira envolvida numa crise de confiança nos seus modelos 737 MAX e a segunda tendo assinado recentemente um contrato para a venda de 300 aviões à China, numa operação avaliada em 31 mil milhões de euros.

Entalado entre este duelo de gigantes, Portugal deve contribuir diplomaticamente de todas as formas possíveis para que este aumento de tarifas não se verifique ou, a verificar-se, devemos tentar encontrar mecanismos compensatórios para as nossas empresas, sob pena das exportações portuguesas serem fortemente abaladas pelo aumento de preços para os consumidores norte-americanos. Dependente de como se encontra das condições de mercado externas, a economia portuguesa é altamente sensível a estes espirros que, vindos de fora, podem facilmente colocar as nossas empresas à beira de uma fortíssima gripe, salvo seja.

A situação em torno do Brexit, as preocupações em tornos das economias italiana e grega, por exemplo, e agora esta incerteza associada à disputa entre Washington e Bruxelas, geram a desconfiança dos agentes económicos, tornando nervosos os investidores e afetando a cadeia de fornecedores global atingindo mesmo as grandes empresas de base europeia, como a Siemens, a BMW e a Volkswagen, que já alertaram recentemente para os riscos desta agressiva atitude do presidente norte-americano.

Parafraseando uma frase de Albert Einstein sobre a vida, a economia é como andar de bicicleta. Para se manter o equilíbrio é preciso continuar em movimento. E, para que esse movimento ocorra, é preciso que confiemos nas nossas capacidades, incluindo as de diplomacia económica, poucas vezes tão importantes como agora para o futuro de todos nós.

 

 

 

Depois de Fernando Medina comprometer a EMEL em 19 milhões de euros para um sistema de bicicletas partilhadas na cidade de Lisboa, os lisboetas não têm hoje disponíveis as prometidas 1.400 bicicletas da GIRA. Soubemos esta semana, pela imprensa, que a CML rescindiu o contrato com a empresa “Órbita” depois de ter avançado vários milhões à mesma. Esperemos que a EMEL, por via das garantias que diz ter exigido, possa recuperar os valores devidos. Há três anos, o CDS criticou a escolha de Medina, tendo defendido na altura um modelo de investimento maioritariamente privado, o que aliviaria os bolsos dos contribuintes. O tempo veio dar-lhe razão, uma vez que chegou recentemente a Lisboa, num investimento totalmente privado, um serviço de bicicletas partilhado de grande qualidade, em alternativa à GIRA.